Quando é o público a marcar a agenda do jornalista

Um artigo sobre esta matéria, publicado na Columbia Journalism Review, conta a história de uma enfermeira de San Francisco que escutou na sua rádio favorita um anúncio encorajando os ouvintes a fazerem perguntas que gostavam que a estação esclarecesse. Ela foi ao site da KALW e perguntou de onde vinha toda aquela gente que ela via a morar em tendas ao longo da Division Street.
Três meses depois, uma jornalista da estação tinha no ar uma reportagem sobre o que tinha sucedido. Os sem-abrigo de San Francisco a dormir naquela área já eram um facto conhecido há vários anos, de vez em quando eram removidos pelas autoridades municipais, mas em 2015 o seu número aumentou muito.
A jornalista Liza Veale andou nas ruas, falou com toda a gente, identificou o homem que fez uma campanha de fundos para comprar as tendas novas. A enfermeira Elisabeth Marlow, que fizera a pergunta, sentiu-se esclarecida por saber melhor o que acontecera - que cerca de 70% destes sem-abrigo “tinham ficado sem-abrigo em 2008, em consequência da crise económica”; tinham sido alojados de modo precário, mas as coisas correram mal e de repente havia um grande número deles de regresso às ruas.
“Já eram residentes da cidade, eram pobres, e depois ficaram na miséria. Penso que é uma estatística realmente importante.”
A plataforma Hearken foi desenvolvida em Chicago, na estação de rádio WBEZ, e mais de 50 meios de comunicação, na sua maioria estações de rádio dos respectivos estados ou regiões, estão a usar este serviço.
O procedimento seguido na KALW, a estação referida no início, é o de responder a todas as propostas de um destes três modos: se já há um repórter a trabalhar em qualquer coisa relacionada com a pergunta, ela vai ser imediatamente tratada; se a questão é considerada ainda “verde”, é posta a uma votação pelos ouvintes e tratada uns meses mais tarde, como sucedeu com a da enfermeira Marlow; ou, se já teve cobertura extensiva, a KALW envia um e-mail a quem fez a pergunta com uma resenha da cobertura significativa.
“Recebemos tantas perguntas de qualidade só nos primeiros dois meses que ainda estamos a fazer a triagem delas e a pô-las à votação” - conta Olivia Henry, responsável por este serviço na KALW.
O artigo original, na CJR