O título do relatório, que poderíamos traduzir por Descrições (ou Imagens), Percepções e Dano (ou Ofensa)  - sem esgotar a multiplicidade de sentidos sugeridos -  é revelador do terreno sujeito a controvérsia em que o estudo se move.  

A questão posta à partida, como refere Le Figaro, é a de saber se a legislação em vigor é suficiente para evitar “o potencial de causar dano ou ofensa proveniente da inclusão de estereótipos de género na publicidade” e, uma vez publicado o relatório, a resposta parece simples: não.  

É recordada uma das polémicas que deram mais agitação na opinião pública britânica, causada em 2015 pelo anúncio de uma marca de suplementos dietéticos, supostamente benéficos para a perda de peso, que mostrava uma jovem em biquini, em painéis no Metro de Londres, com a pergunta: “Está com o seu corpo pronto para a praia?”  

Houve uma petição com cerca de 70 mil assinaturas condenando esta publicidade como “socialmente irresponsável”, e foram enviadas 400 queixas à ASA. Esta autoridade reguladora acabou por não interditar o anúncio, afirmando que não entendia essa imagem como humilhante para “mulheres com diferentes formas corporais”, no sentido de as levar a procurar “suplementos de emagrecimento para se sentirem confiantes em fato de banho, em público”.  

“Ironicamente”  - como conta The Guardian -  “o anúncio acabou por ser removido porque continha publicidade enganosa a respeito das virtudes do suplemento da Protein World.”  

Como recorda ainda Le Figaro, “este debate acabou por ter repercussões políticas, porque Sadiq Khan, o actual mayor de Londres, tinha feito da luta contra a publicidade sexista uma das suas promessas de campanha; uma vez eleito, conseguiu mesmo proibir (até certo ponto) os anúncios revelando ‘corpos femininos irrealistas’ no Metro de Londres”.  

Há um sexismo muito enraizado na publicidade, segundo o estudo que o Geena Davis Institute publicou recentemente, baseado na observação de dois mil anúncios em língua inglesa, entre 2006 e 2017, e segundo o qual “as mulheres, sub-representadas na publicidade, são sobretudo remetidas para os papéis do serviço doméstico ou da mulher-objecto”.  

Citando ainda Le Figaro, “este problema não é, aliás, simplesmente anglo-saxónico: no final de 2016, 82% das francesas afirmavam que a publicidade ‘causava complexos’ às mulheres, segundo um estudo do Ministério das Famílias, da Infância e do Direito das Mulheres”.  

Segundo The Guardian, o presente projecto da ASA inscreve-se numa tendência que já levou a que determinados anúncios, mesmo com figuras famosas da beleza feminina, como Cara Delevingne, Natalie Portman e Julia Andrews, tenham sido banidos, assim como aqueles que exibem modelos “doentiamente magras”.  

 

Mais informação em Le Figaro e The Guardian, e o relatório de síntese da ASA, que contém o link para o texto completo