Propaganda do Kremlin em complemento da censura aos “media”
Com o início da guerra, o Kremlin apertou a censura aos “media” independentes, com uma nova lei que criminaliza a partilha de “notícias falsas” – ou seja, qualquer informação que contrarie a narrativa governamental.
Assim, vários cidadãos deixaram de ter acesso a informações fidedignas, pelo que a existência de um conflito armado é desconhecida por muitos russos.
Existem, contudo, alguns consumidores “resistentes”, que deixaram de confiar na propaganda do Kremlin, e passaram a recorrer às redes sociais, como o Telegram, para se manterem informados sobre a ofensiva russa.
É esse o caso de Alexey, um jovem russo que, em entrevista para o Instituto Poynter, revelou que esta é uma prática recorrente entre cidadãos dos 20 aos 30 anos.
“Antes das novas leis, tínhamos acesso a alguns ‘media’ independentes. Contudo, a maioria destas publicações encerraram e, as poucas que continuam em funcionamento foram obrigadas a alterar a linha editorial, para não serem penalizadas”, explicou Alexey, cujo apelido não foi revelado, por motivos de segurança.
Por isso mesmo, continuou Alexey, os jovens passaram a recorrer ao Telegram, onde muitos jornalistas criaram canais de partilha informativa, revelando a realidade bélica.
“Ainda não é proibido consumir estes conteúdos. No entanto, enquanto cidadãos, estamos proibidos de partilhar, publicamente, estas notícias, que diferem das informações oficiais”. Assim, Alexey limita-se a debater os conteúdos que consome com pessoas da sua confiança.
Alexey explica, por outro lado, que alguns jovens preferem manter-se afastados destas fontes de informação.
Março 22
“As pessoas não estão muito interessadas em política, e preferem viver as suas vidas de forma tranquila, ignorando aquilo que o governo faz, ou a forma como foi eleito”.
Da mesma forma, as faixas etárias mais velhas preferem confiar na narrativa do Kremlin.
“Já tive várias discussões, porque os cidadãos recusam-se a aceitar que a Federação Russa esteja a fazer o mal, e a acreditar que os membros do governo não sejam boas pessoas”.
Ainda assim, Alexey diz já ter feito alguns avanços, levando a sua irmã mais velha a acreditar na existência de uma guerra que envolve a Rússia.
"No início, a minha irmã negava que pessoas inocentes estivessem a ser mortas. No entanto, mostrei-lhe algumas imagens que foram partilhadas no Telegram. Agora, já não rejeita esta realidade”.
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