A questão de fundo  - segundo o autor, Dairan Paul -  “não tem necessariamente a intenção de ‘capacitar’ estas pessoas [os leitores] com técnicas de apuração. Afinal, quem tem tempo para verificar todas as informações que recebe, senão o próprio jornalista?” 

“A questão me parece anterior: é preciso argumentar sobre a importância de uma informação bem apurada, e demonstrar isto na prática. Parece-me mais significativo o alto percentual de pessoas que verificam a veracidade de uma notícia mesmo após consumi-la em meios jornalísticos, do que aqueles que não o fazem com mensagens de aplicativos. Em suma, estamos tratando de uma crise de credibilidade.” (...) 

O artigo que citamos refere-se a uma pesquisa  recente, sobre o consumo de informações online, realizada pelo site brasileiro Aos Factos. “Quando questionados sobre quais características podem levantar dúvidas sobre a veracidade de uma notícia, a segunda resposta mais recorrente, entre os 805 participantes, é  - ‘jornalista não explicou como chegou a tal informação’ (29,8%). Em primeiro lugar, uma sugestão direta: ‘falta de citações para fontes ou referências’ (42,5%).” 

O autor sublinha ainda os dados sobre a verificação pelos próprios leitores: “62% questionam a veracidade de informações quando consomem notícias directamente em sites de meios tradicionais da imprensa; já 40% não se mobilizam para verificar o conteúdo que recebem via redes sociais ou aplicativos de mensagens”. 

“Este ponto é interessante à medida que parece existir uma ‘cultura de desconfiança’ mais acentuada naqueles que já têm o hábito de aceder com certa frequência a sites de meios jornalísticos. O mesmo não ocorre nas outras plataformas, normalmente aquelas que servem de prato cheio para a disseminação de rumores e boatos em grupos fechados.” (...) 

Dairan Paul cita ainda outro estudo muito recente, desta vez nos Estados Unidos  - mas comentado num site brasileiro, do Farol Jornalismo -  onde se confirma que a “alfabetização mediática” (media literacy) pode, de facto, capacitar o cidadão para uma leitura mais crítica das informações que recebe, mas isso não isenta de responsabilidades os próprios media

“Ou seja, mesmo munidos de chaves, o acesso à caixa preta do jornalismo não depende apenas dos cidadãos. É preciso focar em treinamentos de alfabetização mediática, sem dúvidas. No entanto, a campanha desenfreada de grandes meios no combate às ‘notícias falsas’ aparenta passar ao largo da sua própria responsabilidade, como se diversos factoides [fake news] não tivessem já sido fabricados por jornais outrora mais prestigiados.” 

“Os dados de Aos Factos sobre o alto número de pessoas que verificam informações provenientes de jornais parecem apontar para algo: uma revisão de valores e o pedido para que as fake news sejam combatidas não apenas pelos leitores, mas também no interior das empresas.”

 

O artigo citado, em ObjEthos, que contém os links para ambos os estudos referidos