Por um jornalismo que não deserta dos acontecimentos
“Lembro-me do momento em que achei que alguma coisa tinha que mudar no modo como os jornalistas fazem a cobertura de crises. Foi há três anos, no desolado átrio de partidas do aeroporto internacional de Sana’a. Eu tinha passado seis semanas a fazer a reportagem da violenta insurreição anti-governamental no Yemen, para a BBC. Estava exausta e desejava muito ir-me embora. Mas sair também me pareceu profundamente errado.”
“Enquanto passava a porta, eu pensava no futuro incerto do Yemen, nas pessoas que deixava e nas suas histórias, que ficariam agora por contar. Tinha outro serviço à minha espera, e não é que os meus editores não se importassem com o Yemen; mas, com a escassez de recursos e outras histórias disputando atenção, tinha sido tomada a decisão de eu não ser substituída. Eu sabia que, sem um repórter a esforçar-se no terreno, o Yemen ia desaparecer da agenda editorial.”
“Já o tinha experimentado antes: na Birmânia, no Uzbequistão, no Iraque e em muitos outros lugares onde eu tinha ‘caído de pára-quedas’, ou sozinha ou fazendo parte de um grupo de jornalistas internacionais. Neste ramo, nós descemos sempre em sítios onde se dão grandes acontecimentos, e depois partimos subitamente, retirados mais pelas nossas próprias circunstâncias do que porque a história tenha chegado ao fim. Qual é o resultado? Grandes buracos na compreensão pública das crises que moldam o nosso mundo.”
O que aconteceu a seguir foi que Natalia Antelava falou deste assunto com mais jornalistas, como Ilan Greenberg, de Nova Iorque, Abigail Fielding-Smith, que foi correspondente do Financial Times em Beirute, Peggy Bustamante, professora de Jornalismo Digital na Universidade da Califórnia do Sul, Nicholas Dawes, do Hindustan Times, e outros, e puseram de pé uma startup muito especial, neste caso uma plataforma, ou colectivo de jornalistas animados por uma preocupação comum, a de não desertar, a de permanecer em cada caso de que se faz a cobertura. O nome do grupo vem de coda, a palavra italiana que designa, numa partitura, o símbolo do final da música.
Mais informação no texto de Natalia Anterlava, de que são extraídos os parágrafos acima, em ivoh
e no site do projecto .Coda – stay on the story.