Polarização política dos Media é diferente em França e nos EUA

A investigação partiu do trabalho já publicado por Yochai Benkler e a sua equipa, em Harvard (Network Propaganda), sobre a forma do ecossistema mediático nos Estados Unidos durante as eleições de 2016. O que eles encontraram foi evidência de uma “polarização assimétrica”, uma divisão nítida entre universos de Informação, “entre a extrema-direita e o ecossistema unificado ligando a esquerda, centro e centro-direita”.
Segundo a sua análise, meios novos, como o Facebook, tiveram muito menos influência do que os meios digitais mais convencionais:
“Em particular, Breitbart - a publicação digital da extrema-direita - arrastou a Fox News para a direita anti-imigrantes e, com ela, o Partido Republicano. O que emergiu daqui foram duas esferas mediáticas largamente independentes, uma em torno do Breitbart e da Fox News, raramente frequentadas por não-Republicanos, e outra contendo o jornalismo tradicional [mainstream media, no original], incluindo fontes de centro-direita como The Wall Street Journal. Segundo a equipa de Benkler, o que se desenrolou no Facebook e no Twitter reflectia divisões mais largas, a longo prazo, nos media, nomeadamente a emergência da televisão digital e por cabo, que escolheu explicitamente um partido político como sua audiência.” (...)
Quando Ethan Zuckerman e os três investigadores franceses começaram o seu trabalho, após o desfecho das eleições em 2017, verificaram que, “à semelhança dos Estados Unidos, a França tem um ecossistema maduro e complexo, onde as redes sociais estão a tornar-se cada vez mais influentes”:
“Mas, por contraste, a política, em França, é ideologicamente multipolar, e não claramente bi-partidária.” (...)
Aplicando ao caso francês os mesmos intrumentos de trabalho que tinham sido usados pela equipa de Yochai Benkler, Ethan Zuckerman esperava encontrar em França, com a ascenção de conteúdos anti-islâmicos e anti-imigrantes, uma reacção semelhante àquela em que “o foco sobre a imigração se espalhou do Breitbart para a Fox News durante a campanha de 2016, acabando por moldar a narrativa mais ampla em torno da eleição”.
“Em vez disso, depois de analisarmos 18 milhões de tweets e 65 mil artigos publicados entre Março de 2018 e Fevereiro de 2019, descobrimos que os media franceses são estruturalmente diferentes dos americanos.”
“Há um núcleo bem relacionado de meios de élite em França - publicações mais antigas, estabelecidas, impressas, incluindo Le Monde, Libération, Le Figaro, Les Echos, L’Obs - que marca a agenda do resto do ecossistema mediático. As vozes da esquerda e da direita, nos media, relacionam-se com frequência umas com as outras, mas estas publicações de núcleo não se relacionam tanto com os media periféricos, exclusivamente digitais, ou regionais, ou com aquele espaço mediático, em rápido crescimento, de natureza ‘conspiratória’ - que inclui conteúdos semelhantes aos da Infowars e outros sites de franja nos EUA.”
“Na França, os media desse núcleo continuam a funcionar como guardiões [gatekeepers, no original] determinando o formato do debate nacional. Há grande solidez neste modelo de gatekeeping.” (...)
Ethan Zuckerman compara o efeito dos 20 mil e-mails sobre a campanha de Emmanuel Macron com o sucedido nos EUA, com os e-mails da campanha de Hillary Clinton. Em França, os media do núcleo optaram por ignorar os #MacronLeaks, apesar das campanhas da WikiLeaks e de outros, para promover essa fuga, que teve pouco efeito sobre a eleição de Macron. (...)
Em consequência, o maior perigo para a democracia, que Zuckerman e os outros investigadores da equipa encontram nos media franceses, pode ser o de que “certos meios de comunicação estão de tal modo habituados a marcar a agenda que podem falhar temas importantes emergindo longe dos centros tradicionais de poder” - como os gilets jaunes - que “só chamaram a atenção dos meios de élite de Paris quando os manifestantes vandalizaram o Arco do Triunfo”. (...)
O artigo aqui citado, na íntegra na Columbia Journalism Review.