Paulo Macedo começou por afirmar que “nestes quatro anos, a situação da Saúde teve como ponto de partida o facto de nós compararmos bem, em termos absolutos e em termos relativos.” Admitiu algumas dificuldades, por exemplo no caso da Sida, e prosseguiu:

“Comparamos mal em algumas áreas, como as pneumonias, mas comparamos bem em médias de esperança de vida e na evolução que fizémos nas doenças cárdio-vasculares, comparamos bem na mortalidade infantil e sobretudo na saúde materno-infantil, e bem na mortalidade antes dos 70 anos, que é um dos principais indicadores de saúde.”

Paulo Macedo avaliou depois o efeito dos constrangimentos económicos deste período:

“A crise afectou a Saúde de uma forma anormal; foi a primeira vez que, na Saúde, houve uma redução do orçamento. Não tinha acontecido. E mesmo em termos internacionais, nunca houve outros países que tivessem esta redução, a não ser os países agora afectados pela crise. E reduzir a despesa da Saúde não é natural. Tivémos que, pela primeira vez, ser confrontados com a redução da despesa pública num sector contra-natura.”

Ao mesmo tempo que o Estado punha à disposição da Saúde menos receitas, pedia-lhe que gastasse menos, corrigisse os desequilíbrios e pagasse as dívidas (“havia mais de três mil milhões em dívidas, algumas vencidas há mais de 90 dias…”). Como disse adiante:

“O Estado, neste período, conseguiu injectar mais de 2.500 milhões de Euros adicionais aos Hospitais para regularizar dívidas. (…/…) Só que em vez de serem injectadas nas necessidades, no dia-a-dia dos Hospitais, no investimento que precisamos de fazer, nos cuidados continuados, etc., foi basicamente para regularizar dívidas passadas. Este foi um paradoxo destes quatro anos.”

Apesar de tudo isto, afirmou Paulo Macedo, “nestes quatro anos conseguimos melhorar os indicadores da Saúde”:

“Estamos a ganhar nas diferentes áreas, a única em que estamos a perder é na área oncológica. E aí sabemos que, pura e simplesmente, é aquela que vai aumentar e onde vamos precisar de investir. Vamos ter um maior número de cancros. Temos que nos preparar para esse facto.”

A palestra do Ministro da Saúde desenvolveu-se nesta linha de expor, por contraste, as dificuldades inerentes ao período de crise e a forma como se procurou superá-las: no melhoramento da produção assistencial, no reforço das carreiras médicas, nos terrenos da inovação, formação e investigação, no estabelecimento de acordos importantes (com a indústria farmacêutica, por exemplo), no recrutamento de novos profissionais, médicos ou enfermeiros. Falou também da exportação nesta área, lembrando que Portugal exporta mais medicamentos do que vinho.

Perto do final da sua palestra, Paulo de Macedo deteve-se no tema do envelhecimento da população: “Nós comparamos bem em termos de indicadores de saúde mas, por exemplo, temos que melhorar, claramente na qualidade de vida dos 65 anos para os 80, que é a nossa esperança média de vida.”  Falou nas doenças que vão ter um peso crescente, como a diabetes, na necessidade de mais prevenção e correcção de hábitos nocivos por parte dos próprios cidadãos.

Sublinhou, a terminar, a importância de uma governance e um financiamento adequados das instituições da Saúde e de uma justa remuneração dos seus profissionais:

“Estamos a dar mais responsabilidades às pessoas, é isso que pedimos às instituições, aos nossos Hospitais, que cada vez tenham mais funções, que acompanhem os idosos, façam mais intervenções cirúrgicas, com maior grau de precisão, maior cuidado relativamente às pessoas, mas, ao mesmo tempo que lhes damos mais responsabilidade, a remuneração é menor.”

Insistiu, por fim, na necessidade de um objectivo claro e de um consenso nacional sobre a questão do financiamento da Saúde: “E temos que o discutir enquanto ainda temos os custos com a Saúde controlados, enquanto estamos nesta posição de o poder fazer.”