Segundo o Creators Connect,  “o diferencial do YouTube em relação à televisão e aos media tradicionais é o deslocamento entre o que o relatório chama de audiência transferida, quando os comunicadores falam a partir de um meio que já controla as rotinas de atenção do público, e audiência construída, quando os próprios criadores desenvolvem o seu público a partir do zero, fortalecendo gradualmente a sua influência através de um crescimento orgânico”: 

“Isso ocorre na medida em que uma comunidade crescente é estimulada a se identificar não só com o conteúdo, mas com as narrativas  – ou, no jargão publicitário, com o storytelling  fabulado pelo youtuber para atribuir à sua imagem uma marca de identidade e, acima de tudo, de autenticidade.” (...) 

“A ligação entre o público e o seu youtuber predilecto é tão intensa  - explica o Creators Connect -  que os seguidores se sentem particularmente envolvidos com as marcas que ele anuncia, seja através de merchandising directo, seja por meio de uma opinião aparentemente despretensiosa. Mais do que tolerar a [publicidade], portanto, os fãs celebram o sucesso comercial dos seus ídolos e confiam nas informações, produtos e marcas que ele indica, graças aos vínculos afectivos e identitários que superam a noção tradicional de credibilidade.” (...) 

É neste ponto que o jornalismo fica em causa. Como refere o autor do artigo que citamos, “para o bem e para o mal, os youtubers estão a tornar-se os maiores comunicadores do mundo digital”. 

“A leitura atenta do relatório indica que parte desse sucesso também pode ser explicado como produto de um exercício intensivo dos criadores de conteúdo no campo da comunicação digital, resultado de uma competição brutal no cada vez mais instável mercado de atenção”: 

“Ela é mais directa, imediata, próxima. Ela precisa prender a atenção logo de cara, para que ninguém feche a janela. E como os YouTubers costumam ser ‘gente como a gente’, eles também usam uma linguagem bastante íntima e emocional. Tudo isso colabora para criar um sentimento de identificação entre quem assiste e quem produz o canal.” (...) 

A concluir, o investigador André Azevedo da Fonseca interroga-se sobre “até que ponto o expressivo movimento de jornalistas que decidiram desenvolver os seus próprios projetos no YouTube pode contribuir para aprimorar a qualidade das informações que circulam na plataforma e recuperar parte da credibilidade dos jornalistas e da Imprensa em geral”. 

Cita a sua própria experiência com o canal de Educação, Comunicação e Ciências Humanas, no YouTube, e os debates que tem animado sobre estas questões, rematando com um reparo preocupante: 

“Mas é preciso ficar claro que há muitas contradições, sobretudo no que diz respeito ao modelo de negócio do Google Adsense, que, ao exigir um volume expressivo de visualizações para que o canal se torne rentável, acaba estimulando precisamente aqueles conteúdos sensacionalistas que chamam a atenção de um público amplo.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa.

E o relatório Creators Connect: o poder dos YouTubers.