Os riscos profissionais de ser jornalista no Paquistão

A liberdade de Imprensa não é sempre a norma, no Paquistão. Como se conta no texto, no princípio de Novembro efectivos da unidade anti-terrorista do país entraram à paisana e fizeram buscas no Clube de Imprensa de Karachi, sem qualquer mandado oficial. Poucos dias depois, o jornalista veterano Nasarulah Chaudry foi detido e está a ser investigado por um tribunal de combate ao terrorismo, acusado de ter “literatura proibida”.
Sobre estas realidades, Saddam Hashmi comenta:
“Nós, jornalistas, pensamos de modo menos convencional e para além dos limites. Trabalhamos pelo melhoramento da sociedade, mas por vezes temos problemas como o da perda de realidade. O meu desejo é que aos poucos, gradualmente, os problemas sejam resolvidos. Nós continuamos a ter energia, não estamos desmoralizados. Queremos fazer coisas boas pelo nosso trabalho.”
“Estou contra qualquer forma de terrorismo, de racismo, qualquer forma de crime. A nossa profissão trata de comunicação, e se conseguirmos melhorar a comunicação entre diferentes comunidades, isto é bom para a Humanidade. São estas as ideias que procuro divulgar pelo meu trabalho.” (...)
Sobre os riscos, ou factores que afectam permanentemente o trabalho do jornalismo, descreve grupos criminosos e terroristas, contrabandistas e mafias; fala do conflito entre o Paquistão e a Índia, e da guerra entre a Rússia e o Afeganistão, que continua a ter efeitos.
“O Paquistão tem recebido refugiados do Afeganistão, que têm uma mentalidade diferente. Embora muitos sejam, certamente, boas pessoas, a abertura das fronteiras trouxe também um aumento do contrabando de armas - especialmente AK47 [Kalashnikovs] - e drogas. Isto causa problemas até hoje e deu força ao terrorismo.” (...)
Fala dos amigos que tem perdido em atentados e dos procedimentos de segurança a que os jornalistas no Paquistão devem habituar-se:
“Eu participei num programa HEAT – Hostile Environment Awareness Training, mas, no fim de contas, treino é apenas treino. Se uma pessoa, ou a sua família, forem a caminhar na rua, e alguém atirar contra eles de uma mota, ou de um carro, como é que se podem proteger? Eu não ando armado nem tenho guarda-costas. Já fui ferido e ameaçado, fui ferido cinco vezes na cabeça e tenho um braço com um músculo lesionado. Um bom jornalista enfrenta muitas pressões e problemas e tem a vida sempre em risco.” (...)
Fala também das dificuldades com as próprias empresas de media:
“Eles não se preocupam connosco. O que querem é as notícias de última hora o mais depressa possível. Uma vez não me deixaram voltar à redacção para vestir o meu colete à prova de bala antes de partir para a reportagem de um tiroteio - para não ficar atrás da concorrência.” (...)
“Outro problema é a sobrecarga de trabalho. Os jornalistas no Paquistão têm uma sobrecarga muito elevada, e há muitos casos de repórteres que morrem de ataques cardíacos, devido ao stress e ao excesso de trabalho.” (...)
Saddam Hashmi adverte que, se forças adversas “fecharem a boca” dos jornalistas, as coisas não irão bem:
“Mas nós temos voz, e a nossa voz tem importância, se a usarmos de modo correcto.”
O seu apelo final é no sentido de que os editores cuidem dos seus assalariados e lhes proporcionem as necessárias condições de trabalho, assim como os jornalistas “devem ser responsáveis e cumprir as suas funções”. (...)
O texto aqui citado, na íntegra, no European Journalism Observatory