Os quinze anos de uma adolescente chamada Wikipédia…
A necessidade havia, o instrumento ainda não. A comunicação digital crescia depressa, e a ideia de um dicionário universal, sobre todas as coisas, gratuito e de acesso rápido, impôs-se. Também se impuseram outras coisas: que tinha de ser credível, capaz de se corrigir e de incorporar diferentes modos de interpretar aquilo de que trata. O caminho seguido foi o de fazer de cada utente um possível colaborador.
A Wikipédia está a mudar, portanto está sempre “em obras” ou, como se diz em inglês, é ela própria a work in progress. O primeiro dos seus dois co-fundadores, Jimmy Wales, diz que ela será um dia “a soma de todo o conhecimento humano”. Talvez seja pedir muito. Mas é, de facto, mais fácil falar das suas dimensões do que dos seus pormenores.
O artigo de aniversário publicado pelo jornal Le Monde fala de mais de 500 milhões de visitantes por mês, em mais de 250 edições linguísticas, com cerca de 37 milhões de entradas redigidas, corrigidas e aperfeiçoadas por dois milhões de articulistas.
As três maiores versões são a de língua inglesa, com mais de cinco milhões, a seguir a de língua alemã, com 1,8 milhões, logo atrás a francesa, com 1,7. Mas estes números podem mudar depressa. A versão portuguesa tem mais de 905 mil artigos.
O artigo acima citado, do Le Monde, não esconde os problemas existentes, os que são revelados pela Wikipédia e os que a podem visar:
“De repente, quase todos os domínios são cobertos. O da sociologia, evidentemente, fascinada por esta democracia de um tipo novo, porque auto-organizada e assentando sobre algumas regras e o consenso. Os investigadores, aproveitando a transparência do site, estudaram nele também o papel dos ‘vândalos’ e de outros trolls que metem as patas mal-intencionadas nos artigos. As desigualdades entre homens e mulheres são particularmente chocantes, com menos de 10% de colaboradoras na enciclopédia e foram também motivo de muita literatura e controvérsias sobre o assunto.”
“É claro que fazer assentar sobre a Wikipédia o futuro do conhecimento da Humanidade só tem sentido se o primeiro degrau for sólido. A credibilidade da enciclopédia foi, assim, um dos primeiros objectos de estudo. Já em 2005, a Nature publicava um texto de comparação entre a enciclopédia online e a sua “concorrente”, a Encyclopaedia Britannica, que não revelava faltas enormes por parte da primeira. Outros estudos foram feitos para estimar a exactidão, em medicina, por exemplo - já que a Wikipédia é um dos primeiros sites consultados a respeito destas matérias. E os resultados são frequentemente satisfatórios.”
O investigador Giles Sahut, da Universidade Toulouse-Jean-Jaurès, fez um inquérito, em Novembro do ano passado, junto de mais de 800 jovens entre os 11 e os 25 anos, para testar a sua confiança atribuída a esta enciclopédia. Ela vai baixando com a idade e o nível de escolaridade, mas volta a subir quando os alunos também participam.
“Eles descobrem nessa altura, tal como o seu professor, que não é assim tão fácil escrever na Wikipédia!” - sorri o investigador, numa alusão às dificuldades em entrar na comunidade. “É verdade que os wikipedianos são mestres ignorantes sobre os saberes, como diz o sociólogo Dominique Cardon, mas são muito sábios quanto às regras e aos procedimentos!”
Mais informação no Le Monde e no website do Mirror: