Outro exemplo grave vem a abrir o artigo que citamos do DN-Media: um activista italiano lançou um tweet apresentado como proveniente de António Guterres, afirmando que ele tinha o apoio do embaixador russo nas Nações Unidas. O próprio António Guterres não tinha, na sua candidatura, qualquer conta no Twitter, mas foi necessária uma vasta operação de contra-informação para repor a verdade, com pedido de desculpas ao embaixador e esclarecimentos dirigidos aos órgãos de comunicação.

O autor da façanha acabou por dizer que o fizera, como noutros casos, apenas para demonstrar como é fácil criar estas situações... 

Segundo João Céu e Silva, o autor do texto que citamos, “se nos meios de comunicação tradicionais o falso era detectado e repudiado, neste século em que hipercomunicação digital se torna o principal meio de promoção de ideias a nível global, verifica-se que a repetição continuada da inverdade pelo discurso político, mesmo que não tenha sustentabilidade ou seja desmascarado, se torna aceitável de tão repetido. Daí que se considere que a bolha informativa é tão gigantesca que acaba por descredibilizar a própria realidade”.

Por seu lado, para Felisbela Lopes, investigadora académica ouvida também no mesmo trabalho, não há um cansaço no consumo de informação por ser tão acessível actualmente, mas sim uma uniformização num "jornalismo online pouco atractivo porque vive muito pendurado nas notícias das agências ainda iguais para todos os meios. Muito do que existe nas redes são boatos e uma pseudo partilha democrática de conteúdos que se transforma numa não verdade, um acesso que é muito perigoso para os mais novos porque grande parte das novas gerações só tem acesso à informação pelas redes sociais".

Já para Marina Costa Lobo, investigadora doutorada em Ciência Política pela Universidade de Oxford, esta admite que a confiança na informação online ou tradicional não "se distingue pelo suporte, pois a qualidade de muitos órgãos online já é de confiança em Portugal". Considera que era mais fácil distinguir a qualidade da informação quando se "era capaz de a olho nu avaliar a qualidade de uma publicação". Não deixa de referir que "fazer um jornal em papel para publicar notícias falsas tinha um alto custo mas agora, em online, é muito baixo".

 

O artigo na íntegra, no DN-Media