Os modos de contar os números de uma manifestação

O trabalho de Leonel Camasão incide em primeiro lugar sobre as manifestações de 13 de Março, de contestação a Dilma Roussef e Lula da Silva, conforme a versão de dois jornais, o Estado de São Paulo e a Folha de S. Paulo.
Depois de caracterizar a linguagem de ambos, o autor refere o trabalho de investigação no local que se tornou hábito da Folha, recorrendo a um instrumento de pesquisa sociológica dos participantes, o Datafolha, que é deste modo apresentado pelo próprio jornal.
“A contagem de participantes em protestos de rua sempre foi uma questão polêmica para a imprensa. Há alguns anos, os jornais limitavam-se apenas a divulgação dos dados oficiais (em geral, da PM), gerando críticas por parte dos organizadores dos protestos, e consequentemente, problemas de credibilidade para os veículos. Eventos de massa poderiam ser retratados na imprensa com público muito menor, com objetivo político-mediático de “jogar para baixo” a adesão popular às manifestações, e vice-versa.”
“Não é possível determinar, em termos gerais, se essas alterações eram de responsabilidade da própria imprensa ou das Polícias Militares. O fato é que a objetividade e exatidão dos dados oferecidos ao público ficavam reféns das “subjetividades” do departamento de comunicação das PMs. Isso começou a mudar com os protestos de junho de 2013.” (...)
O autor passa, por fim, a outro exemplo, de duas manifestações de natureza bem diferente:
“Bom exemplo deste ´’sentimento’ é a comparação entre as estimativas dos organizadores e da PM em dois eventos supostamente antagônicos: a Marcha para Jesus e as Paradas da Diversidade. Em 2015, os organizadores do evento LGBT estimaram dois milhões de pessoas na capital paulista. A PM, 20 mil (ou apenas 1% da estimativa dos organizadores). Já na Marcha Para Jesus de 2012, os organizadores estimaram 6,5 milhões de participantes, e a PM, em dois milhões.”
O artigo de Leonel Camasão, que é pesquisador do ObjETHOS, Observatório da Ética Jornalística, foi publicado primeiramente no respectivo site, e depois reproduzido no Observatório da Imprensa do Brasil - a que pertence a foto aqui utilizada.