Os “media” enquanto “cúmplices” da polarização social e política
O excesso de informação, bem como o discurso sensacionalista, conduzem a uma assimilação insatisfatória dos factos, uma vez que os consumidores deixam de ter disponibilidade para contrastar realidades e aplicar critérios críticos.
Tudo isto, considerou Fernando González Urbaneja num artigo publicado nos “Cuadernos de Periodistas” – editados pela APM, com a qual o CPI mantém um acordo de parceria – faz dos “media”, e dos novos processos de produção de notícias, cúmplices do processo de polarização política da sociedade.
Conforme indicou o autor, a polarização implica uma “distorção que vai contra o consenso e o entendimento, contra uma convivência civilizada e plural, até mesmo contra a compaixão”, bem como a “demonização daqueles que não pensam da mesma forma, a quem todas as misérias imagináveis são atribuídas".
Citando o sociólogo Pau Marí-Klose, o autor defende que este fenómeno tem sido promovido pelos “media” da era digital, que convidam os políticos a responderem de forma disruptiva, como forma de gerar um maior número de “clicks”.
Ou seja, o novo modelo de negócio da imprensa incentiva as figuras políticas a imporem as suas próprias ideologias, como forma de conquistar a atenção do público.
Esta realidade é reforçada pelo excesso de informação que circula “online”, que convida os cidadãos a focarem-se nos artigos de maior sensacionalismo, sem desenvolverem o seu sentido crítico, e sem contrastarem ideias.
O autor assume, por outro lado, que alguns especialistas defendem que os jornalistas se limitam a espelhar a realidade política. Contudo, continua o articulista, é necessário ter em conta que os “media” estabelecem a sua própria agenda, e que têm a possibilidade de dar menos atenção a um determinado tipo de discurso.
Neste âmbito, González Urbaneja recorda uma ideia defendida por Bill Keller, editor do “New York Times”, que rejeita a premissa de que os jornalistas devem limitar-se a reforçar o “status quo”, em detrimento da educação e formação cívica dos cidadãos que consomem os seus conteúdos.
Dezembro 21
Aliás, para Bill Keller, seguir este modelo é o mesmo que“abandonar a tarefa de pais”, por considerarmos que “o futuro dos nossos filhos já está definido pela natureza e pela genética”.
Tendo esta premissa em conta, o autor defende que os profissionais dos “media” devem continuar a seguir as normas éticas e deontológicas do jornalismo, para que os serviços noticiosos sejam úteis para os cidadãos, bem como para a saúde das democracias.
Conforme apontou o articulista, “com as tecnologias disponíveis, qualquer cidadão pode ser um agente de informação, pode dar a sua opinião e apresentar realidades alternativas como factos”.
E é a partir deste novo paradigma que o jornalismo entra em cena como profissão que procura a verdade, que contrasta e verifica, que fornece explicações e contextos: “uma profissão que deve ser cuidadosamente seleccionada e avaliada, determinando o que é verdadeiro, o que é interessante e o que ajuda a explicar e a compreender a realidade”, defendeu o autor.
González Urbaneja considera, da mesma forma, que enquanto os colaboradores dos “media” continuarem a ceder à tentação de optar por um discurso sensacionalista, a imprensa será cúmplice da polarização da sociedade.
O autor convida, por isso, todos os jornalistas a abandonarem o “caminho fácil”, primando pela verificação de factos, pela transparência, pelo abandono das agendas pré-definidas e pela ausência de preconceitos.
Para González Urbaneja, “estas são algumas das tarefas urgentes”, que permitirão ao jornalismo deixar de ser “cúmplice da polarização” e passar a dar voz a uma “cidadania decepcionada e inquieta”.
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