Os jornalistas têm o dever de resistir à manipulação
O autor recorda episódios recentes em que políticos famosos foram severamente criticados pela opinião pública, e investigados pelo poder judicial, por terem mentido. Como Bill Clinton, que esteve à beira da destituição, não tanto pelo seu “comportamento inadequado” (assim definido pelo próprio, na altura) como pelo facto de ter mentido para dissimular os factos.
Mas nos últimos anos sucederam fenómenos que classifica de “revolucionários”, nomeadamente e “eclosão da Internet e das redes sociais, que globalizam e generalizam a informação sem discernimento, rompendo o monopólio dos jornalistas como seus mediadores”.
A influência destes últimos “foi substituída pelas redes sociais, onde cabe tudo quanto é divulgado segundo a segundo, e pelas televisões generalistas, ao vivo e em directo, que incorporaram a actualidade para atrair audiências”. A televisão, “pela sua própria natureza como meio, quando informa com critério jornalístico, sofre os riscos da banalidade, da imprecisão e da manipulação em maior grau que os meios tradicionais”. (...)
As redes sociais, por seu lado, “alimentam-se de múltiplas fontes quase sem discernimento, arrastam tudo o que flui sem verificação nem filtro, actuando com enigmáticos algoritmos que ordenam e hierarquizam com critérios misteriosos”. (...)
Fernando Urbaneja defende então, para um jornalismo renovado, “de volta aos seus princípios”, a prática da “ponderação”, entendida como capacidade para seleccionar, ordenar, valorizar e distinguir.
“O conceito de ‘ponderar’ não se explica nas escolas de jornalismo nem se escuta nas redacções. É um conceito mais frequente no âmbito judicial, quando se trata de redigir providências, autos ou sentenças, do que no exercício do jornalismo.” (...)
“Ponderar significa entender que nem todas as versões têm o mesmo valor, que nem todos os factos têm a mesma relevância, que nem todas as vozes têm o mesmo interesse. Com a oferta de todas as versões, sem serem ponderadas, não se constrói um bom relato. Não são a mesma coisa a versão da vítima e a do agressor, a de um perito e a de uma testemunha ocasional. As opiniões mais fáceis de obter podem não ser as mais valiosas nem as mais fiáveis.” (...)
A concluir, Fernando Urbaneja afirma que os jornalistas que pretendam "exercer a profissão com independência, procurando a verdade, têm o dever de resistir à manipulação e às mentiras, que devem denunciar, porque a sua missão não é a de satisfazer as fontes, mas sim servir os cidadãos, contando com honra a história de cada dia".
O artigo aqui citado, na íntegra, em Cuadernos de Periodistas