Os “deslizes do jornalismo” como tema de debate no Brasil
Muitos problemas resultam dessa pressa em publicar, da natureza parcial das primeiras impressões. Como diz Paula Cesarino:
“Você tem o desafio da concorrência. Será que você precisa colocar imediatamente e mais rápido que os outros? Sem ter lido, sem ter o mínimo de reflexão, de calma? O que é melhor para o leitor? É ter uma informação mais rápida, mas menos precisa? Ou você ter um pouco mais de tempo para poder dar uma informação de maior qualidade?”
Por palavras diferentes, os três jornalistas neste debate acabam por estar de acordo em que todos os intervenientes no processo relatado - da transcrição de uma frase gravada de Michel Temer, sem o contexto e o resto do discurso, agravada pela prontidão da interpretação que circulou - não ficaram na posse de uma verdade incontestável.
São eles, além da já referida Paula Cesarino, o repórter da Agência Pública, Lucas Ferraz, que faz a entrevista, e o editor do Nexo Jornal, João Paulo Charleaux. A sua conversa, divulgada primeiramente pela Agência Pública, é reproduzida no Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual mantemos um acordo de parceria.
A segunda questão vem da origem das fugas de informação que são lançadas para as primeiras páginas, e que saem da “parte acusatória”, a Procuradoria-Geral da República, ou da “delação premiada”, a qual, “pelo que vai se descobrindo, premeia o exagero, aparentemente”.
João Paulo Charleaux declara que trabalhou neste assunto “e ficou forte para mim a cronologia”. Descreve em pormenor o que ia aparecendo nas primeiras horas do escândalo, a seguir à revelação de O Globo:
“A fonte era, até então, uma só. Só depois é que aparece o áudio que, efectivamente, não fala na palavra mesada, na palavra dinheiro, propina… É um diálogo muito menos assertivo, o que fez com que a Folha de S.Paulo dissesse que era um diálogo inconclusivo. A pergunta que a gente se fazia era: de onde veio essa constatação inicial tão forte de que se tratava de um relato de dinheiro? Era uma interpretação de quem? Só então veio o documento da PGR, onde no início se diz que aos 11 minutos e não sei quantos segundos existe um diálogo entre Joesley e o presidente Michel Temer… e aí o procurador preenche as lacunas e afirma que esse trecho do diálogo diz respeito ao pagamento mensal de dinheiro pro Cunha etc. e tal.” (...)
Sendo embora uma selecção dos “principais trechos”, o discurso do debate, agora proporcionado pelo Observatório da Imprensa, é uma reflexão entre profissionais sobre as fraquezas do seu ofício, uma admissão de erros cometidos e uma reafirmação dos princípios deontológicos a que é sempre necessário voltar: não publicar antes de estar seguro dos factos, ouvir todas as partes envolvidas e assumir prontamente a correcção dos erros publicados.
O texto da entrevista, que inclui um vídeo da Agência Pública sobre a mesma e o tema que está na sua origem