Cristina destaca, ainda, o impacto que a revolução digital teve nas taxas pagas aos jornalistas freelance, uma vez que a mudança para o suporte digital veio tornar o pagamento por peça jornalística muito mais baixo. De acordo com o relatório do APM, os jornalistas freelance lidam, então, com instabilidade financeira, altos custos dos impostos e outras taxas e incerteza de contratação.

Note-se que isto não implica que exista pouca oferta de trabalho, muito pelo contrário. No entanto, apesar de existir maior procura, não houve melhoria das condições. De acordo com o Centro Europeu de Jornalismo, 57% dos jornalistas consideram que as condições de trabalho pioraram e 33% afirmam que estas se mantêm.

Uma investigação sobre as condições dos jornalistas freelance, em Espanha, realizada por professores da Universidade Miguel Hernández de Elche, confirmou as suspeitas de Kike Andrés, editor-chefe do El Confidencial, que argumentava haver um claro desequilíbrio na distribuição de orçamentos num meio de comunicação. Um dos jornalistas freelancers entrevistados acrescentou que “os freelancers que colaboram com esta organização ganham, mais ou menos, entre mil e 1.300 euros. Mas um jornalista na redacção ganha cinco mil ou seis mil euros por mês”.

Alguns meios de comunicação, que contam com a colaboração de jornalistas freelance, tem vindo a lutar pela melhoria das suas condições económicas e do trabalho. Jornais como a Pikara Magazine, o Orden Mundial e o El Confidencial têm vindo a aumentar as suas taxas de pagamento, incluindo a dos jornalistas freelance.

Apesar disso, mantém-se um assinalável desequilíbrio.

No Relatório Anual da Profissão Jornalística 2021, 67% dos inquiridos "consideram que a actual licenciatura em Jornalismo não cobre razoavelmente as necessidades do futuro jornalista", não cobrindo, por inteiro, o fenómeno do freelance. Tendo em conta a realidade actual, não corrigir em retribuição do jornalismo freelance, apenas contribui para a instabilidade, condicionando novos jornalistas e recém-formados.