Segundo Sony Lacerda, “a pesquisa Digital In revela ainda que, de uma população de 211,6 milhões, 215,2 milhões possuem telemóvel  no Brasil, o que nos leva a afirmar que uma parte da população chega a possuir até dois chips”: 

“Fica claro que os consumidores estão basicamente interessados em conexão e interacção. Os dados revelam o poderio enquanto canal de comunicação e rede social: em Dezembro de 2018, o aplicativo WhatsApp já era o mais popular no Brasil, atingindo 100% do território nacional.” (...) 

A autora afirma ainda que o WhatsApp se transformou em “agente multiplicador de fake news”: 

“Importante ressaltar, ainda, que mentiras travestidas de verdades foram utilizadas como parte das estratégias de campanhas políticas desde antes do surgimento das redes sociais, só que em velocidade e abrangência menores.” (...) 

“O vasto acesso à informação faz com que as pessoas se apropriem de conteúdos diversos, não importando fonte e/ou veracidades das informações ofertadas. Se não há controlo, não há como rastrear cada informação e onde esta foi postada e/ou compartilhada. Quando o material é propagado, ele é refeito.” 

“Essa democratização do acesso à rede, o estar conectado, eliminou a hierarquia no sentido de controlo, e os assuntos até então tidos como proibidos através dos media tradicionais. Por outro lado, essa liberalização fez com que essas comunidades se tornassem canal de comunicação em massa de acordo com interesses de determinados grupos.” (...) 

Segundo Sony Lacerda, as pessoas apropriam-se de fake news como sendo verdades por “quererem acreditar, e essa razão principal destrói qualquer possibilidade de iniciativa para controlo desse fenómeno  - ou seja, de alguém que queira adoptar providência acerca dessa desinformação”. (...) 

“As pessoas acreditam porque estão de olho em alguma coisa que justifique a forma como elas pensam. Esse é o princípio básico. As pessoas que se predispõem a receber e a compartilhar esse tipo de informação têm certa inclinação. E essas notícias, construídas da forma que são, reforçam o pensamento do usuário atingido.” (...) 

“As pessoas não querem perder tempo lendo ou verificando os dados, eles querem compartilhar, em uma clara demonstração de apropriação desta informação e empoderamento. Muitas vezes, os utentes sabem que a informação recebida é fake e, apesar de factos e argumentos, fazem partilha, não se importando com as consequências.” (...) 

Tendo dito que a falta de controlo e a intensa propagação de fake news  “transformaram o pleito eleitoral de 2018 nas eleições da desinformação”, a autora coloca uma reserva: 

“Podemos afirmar que houve certa influência nesse resultado, apesar de ainda não haver estudos aprofundados nem pesquisas que comprovem que a eleição foi decidida, de facto, devido às redes sociais.” 

“O que é possível analisar é: um candidato sem tempo de TV [horário eleitoral gratuito], sem meios de comunicação tradicionais à disposição, e apenas com essa estrutura das redes conseguiu levar a mensagem de forma a atingir o sucesso, mostrando a cumplicidade do aplicativo de mensagem nesse resultado. Ainda assim, se faz necessária uma análise real do fenómeno.” (...)

“É possível afirmar, mas não quantitativamente, que a campanha de 2018 no WhatsApp foi polarizada pelos eleitores dos presidenciáveis Jair Bolsonaro e Fernando Haddad e o ‘PT de Lula’, percebido não apenas pelos media especializados na área política, como pelos leigos à frente desse compartilhamento desenfreado de informações. Diferente de outras redes sociais já consolidadas como o Facebook e o Twitter, que apresentam perfis públicos, o WhatsApp abriga grupos privados sem interferência de indivíduos de ‘fora’ desse círculo.” 

“É necessário dizer que, pela primeira vez na história política do País, o debate migrou quase completamente para uma esfera eminentemente ‘privada’ e, ao mesmo tempo, com acessibilidade ilimitada, em termos de tempo e espaço.” (...) 


O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa