Em crónica publicada no Le Monde, Agnès Alexandre-Collier e Thomas Lacroix recordam, no entanto, que The Sun tem uma tiragem de 1,3 milhões de exemplares diários  - seis vezes mais que Le Monde... “Não admira que alguns chamem ao Reino Unido a nação tablóide.” 

E acrescentam que, se deixarmos de lado as duas páginas dedicadas à vida política do país, o jornal revela-se como um entrelaçado de espaços publicitários, páginas de pessoas [famosas], crónicas sobre as últimas fofocas e a secção de desportos.

“Não é certo que a maior parte dos leitores vá mais longe do que a página dos títulos para ter uma ideia da actualidade. Mas quando se faz este esforço, em boa verdade não se encontra nada de chocante. A exposição de informações, muito correcta, não reflecte o simplismo da sua apresentação.” 

“Ao lê-los, verifica-se que a verdadeira identidade dos tablóides encaixa sobretudo no que fica em volta: os grandes títulos, as fotos chocantes, os editoriais... O texto do artigo, em si mesmo, é bastante secundário.” (...) 

Há depois “os jornais chamados de mid-market, menos chamativos, mais sóbrios, que tocam um público mais alargado, mais rico e politicamente mais motivado que o da Imprensa popular, entre eles o imperial Daily Mail, com 1,2 milhões de exemplares por dia. Ponto comum entre estes jornais? (Quase) todos favoráveis ao Brexit.” 

Outro ponto comum é a reacção epidérmica de rejeição incondicional que suscitam entre os pró-europeus. 

“O Reino Unido e os tablóides, é uma longa história. Há mais de 30 anos que a Imprensa popular, por influência do proprietário do Sun, Rupert Murdoch, se entrega a este desporto. Até ao ponto de a Comissão Europeia ter decidido criar um serviço independente para combater aquilo a que chama os euro-mitos, e que continua em funções.” (...) 

Sobre a sua função de produtores de fake news, os dois enviados franceses contam que, “na verdade, é mais complicado do que isso”: 

“Na sua maioria, os tablóides não têm correspondentes em Bruxelas. Habitualmente, não fazem mais do que repetir os boatos que circulam nos corredores do Parlamento e dos Ministérios. Segundo Rob McNeil, director do programa Reminder, sobre os media, toda a arte dos tablóides é a de saber o que é que vai enervar os seus leitores. Temas predilectos: a imigração e Jeremy Corbyn, dirigente dos Trabalhistas e chefe da oposição.” 

É este conhecimento do eleitorado que lhes permite saber  - citando aqui Jean Cocteau -  “até onde se pode ir longe demais”...

 

O artigo citado, na íntegra em Le Monde