O sucesso na net de uma estação de TV privada lituana financiada por “crowdfunding”
Andrius Tapinas atribui o sucesso quase instantâneo do seu projecto à natureza libertadora da Internet, definida por si nestes termos:
“O advento da Internet, há mais ou menos 30 anos, viciou o mundo numa das drogas mais poderosas disponíveis às sociedades modernas – o acesso livre e imediato à informação.”
Toda a primeira metade do seu texto, publicado na mais recente edição do Correio da UNESCO, descreve o que sucedeu como um triunfo sobre “a velha guarda dos media”:
“E se você pertence à velha guarda dos media, é bem provável que não goste. A imprensa e a televisão tradicionais foram apanhadas desprevenidas – tecnológica, financeira e criativamente – pela revolução digital, e estão passando pelos maiores desafios que já enfrentaram. Elas têm condições para enfrentar esses desafios? Na verdade, não. Mas elas não têm escolha – ou nadam ou afundam.”
“Antes que pudessem entender o que estava acontecendo, uma segunda onda – as [redes] sociais – atingiu a velha guarda. Essa onda era maior e mais forte do que a Internet e teve consequências mais severas. As empresas das [redes] sociais ficaram numa posição de vantagem, com a redução da quantidade de assinaturas pagas de jornais e revistas, e com a defasagem dos canais de TV em relação aos milhares de sites de notícias da Internet.”
“De repente, todo mundo se tornou os media – operador de câmara, editor, escritor, jornalista, promotor – em um só pacote. Os guardiões da Informação viram seus portões ruírem e perderam o maior privilégio de todos – o direito de decidir o que é importante e o que não é.” (…)
Andrius Tapinas descreve neste contexto o triunfo de Donald Trump como “o primeiro presidente das [redes] sociais dos EUA”.
Descreve também o YouTube como “o maior repositório de televisão e serviço de hospedagem de vídeos do mundo, sendo que, ele próprio, não cria quase nada de conteúdo, mas é um porto seguro para todos os aspirantes a qualquer coisa da face da Terra. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, hoje em dia, pode ser qualquer coisa que sonhar – cantor, chef, boxeador, estrela dos media. O céu é o limite, e é tudo de graça.” (…)
Mais adiante, admite que nem tudo é positivo na “liberdade sem limites” dos novos media:
"Notícias falsas, linchamentos virtuais, trolls e acusações infundadas proliferam. (...) Não existem filtros nem edição, e nenhuma necessidade de ter comedimento ou decência se a pessoa não quiser.” (…)
Mas a sua conclusão é optimista:
“Nosso modelo de negócios é novo e se insere na revolução digital, mas não é exclusivo. Projectos jornalísticos semelhantes, financiados pelo público, já foram lançados nos Países Baixos, na Suíça, na Índia e em vários outros países. Não é fácil, é o trabalho mais difícil que já realizei em minha carreira de quase 20 anos. No entanto, é o único caminho que quero percorrer como jornalista. E foi a revolução digital que me deu essa chance.”
O texto de Andrius Tapinas, na íntegra, na pág. 20 da edição de Jul.-Set.2017 do Correio da UNESCO, e uma apresentação da Laisvés TV, num vídeo da mesma estação.