O segredo da independência de um jornal “online” espanhol

Na sua opinião, a independência até pode nem ser necessária para tudo o que se faz em jornalismo, “mas há uma zona da informação, a que tem a ver com a fiscalização do poder, com a sua exposição, que só pode ser feita se não se depende do poder. A independência não é uma virtude em si mesma, é um requesito para que o jornalista possa trabalhar”. (...)
Sobre como funcionam as coisas no seu caso, o de eldiário.es, explica Ignacio Escolar:
“Quem manda numa redacção não é o director, é o dono. Os donos são jornalistas que trabalham comigo na redacção. Quando me sento com a minha equipa para resolver o que vamos investigar, ou como vamos investigar, tenho ali o conselho de administração: está a maioria da empresa. Não temos de consultar ninguém que esteja acima.” (...)
“As pessoas pagam por um jornal que lhes seja útil. Uma coisa é sermos desejados e outra é sermos necessários: pagam-nos se nos desejarem, pagam-nos se precisarem de nós. O tipo de jornalismo que fazemos em Espanha torna-nos desejados e necessários para uma audiência. Não é que sejamos juízes, ou polícias ou fiscais, mas, ao denunciá-los, podemos pôr em marcha mecanismos que evitam abusos. Além disso querem-nos e precisam de nós, porque servimos para isso.” (...)
“Os serviços públicos devem ser pagos, porque servem a toda a sociedade e, para encontrar a notícia todos os dias, precisamos de nos entregar de corpo e alma.” (...)
A dependência fundamental, de que se orgulha, é a dos leitores:
“Dependemos de muita gente. Temos anunciantes, mas temos 34 mil leitores que pagam cinco euros por mês por um jornal que poderiam ler de graça, o que representa 40% das receitas; e o restante 60% é coberto pela publicidade.” (...)
Ignacio Escolar reune-se periodicamente com parte desses 34 mil sócios, que queiram fazer-lhe perguntas sobre o jornal:
“Além de lhes explicar e procurar que nos compreendam, enviamos aos sócios uma revista monográfica impressa, de quatro números por ano; mandamos também uma antevisão das notícias que podem ler no dia seguinte; participam de forma destacada nos comentários e podem ler sem publicidade.”
“Isto não nos afecta nas contas, porque a relação entre as pessoas que nos lêem e as que pagam pelas contas é muito pequena” - esclarece, referindo-se ao facto de que, do milhão de leitores totais por dia, só 3,5% pagam a sua membrasia.” (...)
A entrevista aqui citada decorreu no contexto do XVI Encontro de directores e editores de media realizado na Colômbia, na sequência do Premio Gabriel García Márquez de Periodismo que lhe foi entregue em Outubro de 2018.
O texto completo no site da FNPI e o eldiario.es