O romantismo perdido do jornalismo sentado
Um terço dos jornalistas portugueses ganha menos de 700 euros por mês, e a mesma percentagem se aplica aos que vivem e trabalham em situações de precariedade, sem vínculo laboral.
“Em Portugal - diz Sofia Branco - não ter vínculo significa ter trabalho precário, porque não há verdadeiros freelancers, daqueles que ganham balúrdios de dinheiro. Essa não é uma realidade portuguesa nem mundial. Há alguns casos, mas são muito poucos. Na maior parte das vezes, usar a palavra freelancer é um eufemismo para precários.” (…)
No entanto, a geração que vem agora para as redacções é muito qualificada, em termos académicos. “O acesso é condicionado aos estudos que se têm e é obrigatório investir nisso, as médias são altíssimas, há vários cursos que depois vertem para o mercado centenas de estudantes e não sabemos qual a percentagem que vai ser jornalista - quantos vão andar a estagiar de empresa em empresa? É muito triste de ver, porque, de facto, é uma geração muito qualificada e não tem recompensa laboral equivalente.” (…)
Por outro lado, “também há pessoas acima dos 50 anos que estão a ser mandadas embora das redacções porque ganham demasiado. E voltamos à mesma questão do início: porque abriram a boca muitas vezes, fizeram parte dos conselhos de redacção e criticaram as direcções pelas decisões editoriais. Porque ousaram debater.” (…)
Como afirma Sofia Branco, “já não há barulho nas redacções - ninguém discute ou debate”. (…)
O ritmo de trabalho torna-se mais acelerado, o que não significa fazer reportagem no exterior e ir ao terreno:
“O jornalista sempre passou muito tempo a trabalhar, mas agora passa mais. O tempo é uma coisa de que as empresas dispõem como se não houvesse mais nada.” (…) Tornou-se um jornalismo muito sentado nas redacções e ao telefone. Nesse aspecto está muito diferente. É mais importante ser rápido, confirmar só apenas quando dá tempo; e depois há também uma uniformização das pessoas com que falamos, porque são aquelas que garantidamente atendem o telefone (e são quase sempre homens, brancos e com mais de 50 anos). Isto é muito pobre, porque a realidade está a ser analisada sempre pelas mesmas pessoas.” (…)
“Depois há novas profissões que ganharam um grande protagonismo - assessores, porta-vozes ou relações-públicas - que vão buscar jornalistas, que são quem mais sabe sobre informar.” (…)
A entrevista de Sofia Branco, na íntegra, no Expresso