O risco do jornalismo que “vende violência” como negócio
O autor dá um exemplo concreto:
“Não é só porque a Região Metropolitana de Porto Alegre se perfila entre os locais na América do Sul com os maiores índices de roubo e furto de veículos que o seguro dos carros é o mais caro do Brasil. Tem a ver com a sensação da ‘próxima vítima’, que é usada pelas seguradoras para aumentar o preço do seguro.”
É possível fazer jornalismo de modo diferente? Carlos Wagner admite que sim:
“A passos lentos, mas as redacções estão caminhando para dar o tom certo nesse tipo de notícia. E não estão fazendo isso por serem boazinhas com os leitores. Mas porque existem no Ministério Público Federal (MPF) procuradores que estão a especializar-se no assunto. Conversei longamente com um deles. (...) Disse que o foco do trabalho são as manchetes das notícias e os comentaristas de rádio e TV que fazem um carnaval ao comentar as reportagens.”
O jornalista que citamos conta que viveu, no fim da década de 80, durante uma semana na área do Grande Cruzeiro, “um conjunto de 27 vilas populares, onde moram 250 mil pessoas – na época, uma das áreas mais violentas de Porto Alegre; a reportagem era descrever como era o quotidiano das pessoas que viviam cercadas pela violência”:
“A minha convivência com os moradores mudou a minha cabeça. Vi solidariedade entre os vizinhos, respeito dos bandidos pelos trabalhadores, e vi de perto o preconceito dos moradores de Porto Alegre com quem mora em vila popular. Muitas trabalhadoras domésticas ocultavam de seus patrões o seu endereço. A maneira como escrevemos as nossas notícias sobre violência estigmatizam pessoas que moram em áreas descritas por nós como endereço de quadrilheiros.”
O artigo na íntegra, no Observatório da Imprensa