O “populismo” nos Media: fácil de usar, difícil de definir

O texto, erudito e bem documentado, pede uma leitura na íntegra, que não cabe aqui. O autor procura uma definição consensual do “populismo” e reconhece, citando o politólogo argentino Ernesto Laclau, que o conceito “é tão indescritível como recorrente”.
Em última instância, e no final do artigo, aconselha a que seja utilizado “com parcimónia”. Mas, antes disso, vejamos uma síntese dos caminhos que seguiu:
Recorrendo a uma autoridade da casa, Thomas Wieder, actual correspondente de Le Monde em Berlim, é preciso começar pela história do termo “populismo”, que tem a sua “genealogia”.
O primeiro “populismo” é o da Rússia do séc. XIX, dos narodniks, intelectuais da classe média opostos ao czarismo, influenciados pelo socialismo e preocupados com a sorte dos camponeses.
O segundo é o da América Latina dos anos 40, incarnado pelo “peronismo”, que significa o “populismo” chegado ao poder.
O terceiro, o contemporâneo, “seria um pensamento político que assenta ao mesmo tempo sobre a visão de um povo que faz bloco contra as élites e sobre uma promoção do nacionalismo”.
Uma questão que se põe, segundo Thomas Wieder, é a de saber se pode ser usado para agrupar outras noções, como as de extrema-esquerda e extrema-direita, para “meter no mesmo saco, para fins de deslegitimação, Mélenchon e Le Pen”, no caso francês.
Este autor recomenda “atenção” às diferenças entre ambos e ao facto de haver outras forças no espectro político “que não escapam necessariamente ao populismo”.
A título pessoal, Thomas Wieder esclarece que não usa, no seu trabalho, a designação de “populista” para o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), mas sim a de “partido de extrema-direita”.
Para o correspondente de Le Monde em Roma, Jean Gautheret, “se há na Europa um movimento com traços comuns com a definição ‘peronista’ do populismo, é o 5 Estrelas das origens”. (...)
E para a responsável pela secção de Política, Solenn de Royer, o próprio Emmanuel Macron, “que se opõe ao ‘sistema’ e que contorna os corpos intermediários, também é portador de uma forma de populismo”.
Mas não faria qualquer sentido, segundo afirma, “aproximá-lo de Mélenchon, que defende uma visão popular da nação, do género de Jaurès, ou de Marine Le Pen, que se dirige à sensibilidade identitária do povo. Este termo onde-cabe-tudo [mot-valise, no original] é ambíguo e pouco pertinente para descrever a pluralidade e a riqueza de cada caso.” (...)
E segundo Sylvie Kauffman, directora editorial, esta dificuldade em definir o “populismo” corresponde, no fundo, “à nossa dificuldade em definir , com os nossos próprios critérios, estes regimes de aparência democrática, mas com tendências autocráticas, que emergem um pouco por todo o lado, inclusivamente na Europa. Nem sempre dispomos dos instrumentos adequados para definir estes novos fenómenos”. (...)
O artigo citado, na íntegra, em Le Monde