Maria Ressa recorda o incício da sua carreira de jornalista nos anos 80 do século findo, quando fazia a cobertura da transição de governos autocráticos para democracias, achando hoje “bizarro” lembrar a euforia desse tempo: 

“As Filipinas cunharam a expressão pelople power, com manifestações que enchiam a capital para derrubarem, de modo pacífico, um regime violento. O movimento alastrou à Tailândia, à Coreia do Sul, à Indonésia. Como eu trabalhava para a CNN, ia descrevendo a mudança política à medida que acontecia.”  (...) 

“Décadas depois, estou em choque com o que se passa no meu país. Estamos a voltar ao governo de um ditador agressivo, a assistir à erosão das nossas liberdades, a habituar-nos ao assassínio. Nas Filipinas, 97% das pessoas estão no Facebook, que é a nossa Internet. Como o governo e os seus representantes enchem as redes sociais de propaganda, uma mentira contada um milhão de vezes torna-se verdade.” 

“Duterte ataca directamente os jornalistas. Primeiro tratou do Philipine Daily Inquirer, o maior jornal de língua inglesa, pondo processos aos seus proprietários. Depois voltou-se contra a [rede de televisão] ABS-CBN, a maior nas Filipinas, ameaçando não renovar a sua concessão. O site Rappler foi o seu terceiro alvo.” 

Como conta Maria Ressa, as mesmas ameaças de corte da concessão, contra o Rappler, começaram em Julho de 2017, a pretexto de que seria “completamente detido por americanos”, o que não é verdade  - “a maioria dos accionistas são jornalistas filipinos”. 

Ao longo do ano de 2018 e até agora, “nós resistimos, mas os ataques têm sido esmagadores”: 

“Em catorze meses, tivémos onze processos e investigações; nesta Primavera, tive de pagar fiança oito vezes; e num período de cinco semanas fui presa por duas vezes.” (...) 

Este assédio legal toma-lhe 90% do tempo. “No dia seguinte às eleições de Maio, fui acusada de difamação online na parte da manhã, e compareci por fraude financeira noutro da parte da tarde.” 

Duterte impede os jornalistas do Rappler de estarem presentes em qualquer dos seus eventos. Num comício de campanha, o jornalista enviado foi expulso, e Maria Ressa levou o caso ao Supremo Tribunal, acusando o governo de asfixiar a liberdade de Imprensa. 

Dessa vez em que esteve presa, em Fevereiro, o seu pensamento, que relata no artigo aqui citado, foi:

“Quanto mais fizerem isto, mais eu fico com conhecimento em primeira mão do modo como abusam do poder. Quanto mais tentarem intimidar-me, com mais certeza fico de que tenho de continuar a lutar.”

 

O artigo de Maria Ressa, na íntegra, na Columbia Journalism Review.

Mais informação em The Guardian  e no nosso site.