O papel dos jornais e a questão do desencontro com os leitores

Sobre a questão da qualidade, Paula Ribeiro, editora da revista UP, da TAP, combate o equívoco de que “ninguém quer ler”. O que se cria, como diz, é “uma pescadinha de rabo na boca, em que o jornal piora porque custa caro fazer bom, e os leitores não compram porque está pior”.
Sobre a questão do suporte, associada a esta, Paulo Moura, jornalista e docente de Jornalismo, afirma: “Dantes, o que os jornais produziam era um bem escasso e valioso e as pessoas estavam dispostas a pagar por ele. Hoje [a informação] é um bem abundante e pouco valorizado.” Os jornais poderiam fazer a diferença em relação à pouca credibilidade de sites ou outras plataformas feitas sem critérios jornalísticos mas, para isso, “era preciso que fossem credíveis”. (…)
Ainda sobre a viabilidade do jornal impresso, Paulo Moura é taxativo: “É um produto obsoleto, que corresponde a uma outra época, a da revolução industrial e que até em termos tecnológicos não faz qualquer sentido. Tem a ver com ritmos do passado.”
Mas é verdade que os diferentes suportes determinam diferentes ritmos de leitura e de envolvimento do leitor. Miguel Taveira, estudante, lembra que “no computador estão sempre a acontecer milhares de coisas e a há intromissões constantes no texto que estamos a ler”.
Mesmo alguns alunos entrevistados, do curso em que Paulo Moura é professor, sublinham essa diferença: no online “sou constantemente distraída por outras comunicações”; “quando lemos em papel, dedicamos mais tempo só a isso, é como ler um livro”.
A jornalista e docente Helena Ferro de Gouveia afirma:
“É preciso devolver a lentidão ao jornalismo. É preferível sacrificar algumas notícias, mas perder tempo a contar outras bem contadas. Infantilizaram-se os leitores, achando que eles não querem ler, mas as pessoas não são tolas e querem saber as coisas. Essa infantilização é dramática para o jornalismo. E penso que o caminho é a humanização.” (…)
E o historiador e analista político José Pacheco Pereira sublinha a necessidade de rigor deontológico e qualidade profissional, lamentando que os jornalistas “façam muito jornalismo por telefone, tenham fontes muito escassas, estejam muito dependentes das agências de comunicação, tenham falta de imaginação e façam todos as mesmas coisas, (…) “com jornalistas a citar o Facebook e o Twitter, o que é uma coisa suicidária”. Há, diz por fim, “uma cultura do deslumbramento tecnológico que os próprios jornais alimentam”.
No suplemento P2 do Público, a reportagem sobre o futuro dos jornais em papel.