O papel do jornalista disputado pelo “influenciador digital”
“Se o papel do jornalista na produção da notícia passa a ser disputado pelo influenciador digital, é preciso (re)dimensionar a ética na produção da informação a partir dessa cultura digital” - afirma o autor.
“Sendo assim, produzir e distribuir informação torna-se um profundo desempenho de actividades (não) profissionais, que atravessam o âmbito tecnológico da comunicação.” (...)
“É impressionante essa vontade de aparecer no topo da lista, na busca pela fama para estar na crista da onda.”
Influenciar exige empatia, “um envolvimento de se colocar no lugar do outro, embora nem todos possuam esse sentimento”:
“Longe de ostentação, influenciar é impulsionar”, e exige as competências de “comunicar bem e estimular, incentivar, convencer, motivar, manipular ou, até mesmo, persuadir o outro, como a voz imperativa entre aconselhamento ou ordenação”.
Segundo Wilton Garcia, existe “uma troca entre a produção de sentido e a produção de efeito; a lógica do capital altera o interesse por mais valia da mercadoria (vide Marx) para o escopo do influenciador”:
“Ele pode atingir o ‘sucesso’ e, de modo irónico, não ser bem-sucedido na vida.” (...)
“Aqui, influenciar seria qualquer atendimento que estabeleça uma condição plausível de ser (per)seguida, ao instaurar a falta de privacidade. Sim, é uma perseguição admitir que as pessoas influenciadas passam para o status de afilhado, discípulo ou coisa parecida. É claro que alguém provocou isso!”
“Portanto, fique atento ao que deseja como influenciador digital, visto que as suas decisões deixam rastos. Ou seja, não basta obter potencial discursivo para promover uma capacidade de transformação sem garantir a responsabilidade pelos actos cometidos. A manifestação pública constante produz relacionamento de causa e consequência.” (...)
Tendo citado vários autores, cujas referências bibliográficas acrescenta no final do seu texto, Wilton Garcia põe a questão do “protagonismo (hiper)mediático do influenciador digital”, de “quem influencia e com que efeito”. (...)
“Determinada produção de conteúdo nas redes “mexe” com o outro e provoca mudança de atitude ou comportamento. Ao interferir no quotidiano alheio, o influenciador digital transforma a rotina dos seguidores e dita tendências, sobretudo com insumos informativos. Agora, importa apenas se o texto consegue ter muitos cliques, independente dos vários comentários, absurdamente positivos ou negativos.” (...)
E conclui, com alguma ironia:
“Por conseguinte, o influenciador digital deve ser o anunciador das boas novas; é quem tem o acesso privilegiado da informação para trazer a novidade. Sabe-se que, quanto maior a transparência, melhor é a confiança, visto que uma mensagem positiva, altruísta, movimenta montanhas. Na verdade, você está preparado para influenciar o mundo?”
O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa