Connosco
O papel do jornalismo na transformação digital e tecnológica
A jornalista Karina Francisco entrevistou Marluce Zacariotti, professora de jornalismo na Universidade Federal de Tocantins e presidente da Associação Brasileira de Ensino ao Jornalismo (ABEJ). Esta entrevista focou-se nos actuais problemas e obstáculos no ensino do jornalismo durante este período de transformação da sociedade.Em relação à transformação digital e tecnológica, Marluce Zacariotti admite que o jornalismo beneficiou dela, havendo um crescimento substancial de informação ao seu acesso, possibilitando novas perspectivas e ideias. No entanto, o jornalismo também sofreu com estas mudanças, sendo, por exemplo, mais exigente em termos de produção, de forma a saciar o aumento da procura.
A presidente da ABEJ adiciona, ainda, que os jornalistas actuais necessitam não só de escrever, como de saber editar, filmar e fotografar, de forma a adaptarem-se aos avanços tecnológicos, o que demonstra a “realidade de um mercado mutante”.Em termos de preparação de novos alunos de jornalismo, Marluce Zacariotti defende que “a Universidade deve acompanhar todas as transformações tecnológicas sujeitas às necessidades que o mercado aponta, mas não deve render-se especificamente e unicamente a isso”. Por outras palavras, a presidente de ABEJ argumenta que o ensino de jornalismo na Universidade deve reflectir aspectos não só fundacionais, como também fundamentais para o jornalismo.
Adiciona também que, neste momento, o mais importante é definir o papel do jornalista, tendo em conta as funções extras que estes desempenham e o limite que tem vindo a desvanecer-se entre o jornalismo e outras áreas de comunicação. As recentes directrizes curriculares nos cursos de jornalismo visam vincar esse limite, reflectindo sobre as metodologias, as práticas, a ética e legislação, as teorias e técnicas do jornalismo, o mercado de trabalho, e a pesquisa que a profissão engloba. Marluce Zacariotti sublinha assim “a importância do jornalismo como um campo que deve ter o aspecto científico próprio”.
Novembro 22
Em relação ao empreendedorismo no mundo do jornalismo, a presidente de ABEJ revela-se céptica pois, apesar de existirem novas perspetivas e oportunidades, como freelancing, o jornalismo também se encontra numa fase de transição, onde o mercado tradicional começa a desaparecer. Salienta, assim, que apesar de este ser o caminho para a autonomia, “vem baseada na perda dos direitos trabalhistas e uma série de conquistas históricas”.
Apesar de serem tempos inquietantes para o jornalismo, pois não só se encontra em transformação, como também a sofrer cortes, Marluce Zacariotti mostrou-se esperançosa, uma vez que todos estes obstáculos e desafios vieram fortalecer aqueles que lutam pelo jornalismo. Têm assim a “força da resistência […] de quem acredita na democracia, no saber e na educação como um caminho necessário e fundamental para a cidadania e dignidade das pessoas”.
