“Esta é mais uma prova de que o negócio das fake news é rentável. O que poucos portugueses conhecem é a real dimensão deste ‘mercado’. Ao copiar as notícias, opiniões e entrevistas dos jornais que de facto existem e estão registados, estes sites ganham dinheiro, pago pelo Google, em publicidade. Mas não só: a sua influência (alcance, número de visitantes), que é medida oficialmente, faz que tenham primazia no algoritmo do Facebook. Quanto mais populares forem, mais visíveis e mais rentáveis serão. É um círculo vicioso.” 

“Segundo dados do sistema de análise do DN para avaliar a sua audiência e interações em redes sociais, na última semana, dois dos três artigos escritos em Portugal com mais partilhas no Facebook foram feitos por páginas de desinformação. No último mês, três artigos dos cinco mais replicados vieram de sites que imitam órgãos de comunicação social, mas não estão registados na entidade reguladora (ERC) nem têm donos identificáveis.” (...) 

O autor da reportagem, Paulo Pena, explica que, “no dia a dia, estes sites garantem o seu tráfego fazendo plágio de artigos de outros jornais. O artigo sobre uma conferência de Rui Nabeiro no Dinheiro Vivo, por exemplo, surge com 12,8 mil partilhas no Facebook pelo Ptjornal”. 

“Vários destes sites copiam diariamente textos do Correio da Manhã e conseguem aparecer nos rankings com muito mais partilhas do que as do autor original. Para que isso aconteça, estes sites precisam de equipas para difundir os seus links nas redes sociais. E de um sistema de grupos, páginas, redes de contactos.” 

“Tudo isto fez nascer uma indústria em Portugal. Cada um destes sites tem vários outros, semelhantes, registados no mesmo IP. O Lusopt, por exemplo, partilha a ‘morada com o EventoXXI e o JornalQ. O Vamoslaportugal partilha o mesmo IP com outros seis sites de desinformação, como o Lusonoticia.” (...) 

Quase todos estão registados em países como os EUA, França, Alemanha ou Canadá. “O registo é falso do princípio ao fim. Como administrador está registada uma empresa, a Javali Productions, que não existe. A morada é: Rua de Cima e de Baixo, Porto. Também não existe. E o telemóvel do administrador é, como é fácil de adivinhar, falso também: 911111111.” (...) 

A reportagem do DN chegou ao contacto com um dos trabalhadores da falsa Javali Productions. Sem querer ser identificado, este engenheiro informático releva que “quando metia artigos era tudo feito pela Internet a partir de minha casa, não tenho qualquer conhecimento dos proprietários”. Na sua opinião, a Javali “não é uma empresa”, é antes “uma forma de poder ganhar um dinheiro extra”. (...) 

“O dinheiro ganho em publicidade pago pela Google muito dificilmente será declarado. Os trabalhadores destas ‘empresas’ clandestinas não farão descontos sobre o que recebem.” (...) 

Em última instância, segundo o autor, “como é comum no mundo, este tipo de sites quer ainda criar um modelo de político”. Os temas dominantes são “animais, segurança, corrupção e política”. Há mais contas falsas sobre pensões, e outro tema recorrente é o da xenofobia. A forma organizada como se propaga, hoje, este tipo de desinformação, “tem todas as condições para se tornar relevante no próximo ano (com eleições europeias e legislativas)”. (...) 

“Por princípio, não há muitos eleitores dispostos a aceitar opiniões, ou factos falsos, ditos por alguém que surja no meio de rua de cara tapada e voz distorcida. Mas há milhões de portugueses (pelo menos metade dos eleitores habituais) que aceitam ler e até reproduzir o que dizem estes sites anónimos.”