“Para os defensores dos Direitos Humanos, este processo é emblemático da erosão das liberdades depois do golpe falhado de 15 de Julho de 2016, seguido de purgas maciças que submergiram as forças de oposição, desde os eleitos pró-curdos aos meios de comunicação, passando pelas organizações não-governamentais.” 

Segundo o diário Le Monde, que aqui citamos, “este processo surge quando várias vozes europeias, a começar pela de Berlim, se levantam contra Ankara após a recente detenção de diversos militantes dos Direitos Humanos, entre os quais a directora da Amnistia na Turquia, bem como um activista alemão.” (...) 

“O processo do Cumhuriyet é o do jornalismo na Turquia”  - declarou Christophe Deloire, secretário-geral da ONG Repórteres sem Fronteiras. “Os jornalistas são tratados como terroristas apenas por terem feito o seu trabalho.” 

Encontram-se entre os acusados neste julgamento “alguns dos maiores nomes do jornalismo turco”, citando ainda Le Monde: o colunista francófono Kadri Gürsel, o jornalista de investigação Ahmet Sik e o caricaturista Musa Kart. É também o caso do proprietário do jornal, Akin Atalay, e do chefe de redacção, Murat Sabuncu. “Entre os acusados, onze estão em prisão preventiva, a maior parte desde há cerca de nove meses. Desde então, o jornal deixa sistematicamente um espaço vazio no local onde deviam aparecer os textos dos seus colunistas encarcerados, como Kadri Gürsel.” 

“Outro acusado famoso, Can Dündar, anterior chefe de redacção do Cumhuriyet, que tinha atraído sobre si a ira de Erdogan por ter publicado, em 2014, um artigo afirmando que Ankara estava a entregas armas aos islamistas na Síria, está exilado na Alemanha e é julgado à revelia.” (...) 

“A solidariedade ultrapassou as fronteiras, como testemunha o aparecimento de uma edição especial do diário francês Libération, que abriu as suas páginas aos jornalistas do Cumhuriyet. Sob a imagem de duas mãos prisioneiras de um jornal transformado em jugo de grilhetas, o ‘Libé’ põe por título: ‘A Imprensa segundo Erdogan’.” 


Mais informação no Le Monde, com novos pormenores sobre o julgamento