O lugar da ética jornalística num ambiente tóxico que ocupou o espaço da comunicação
“Os últimos 15 anos testemunharam um declínio dramático no jornalismo de notícias, na medida em que a tecnologia alterou a forma de as pessoas se comunicarem e o funcionamento da indústria dos meios de comunicação. Hoje em dia, a maioria de nós lê notícias nos telefones celulares e nas plataformas online, que ficaram ricas explorando os dados pessoais do público e, ao mesmo tempo, tomando espaços de publicidade lucrativos dos media tradicionais.” (…)
Como conta Aidan White, que aqui citamos, a Rede de Jornalismo Ético foi criada há cinco anos precisamente “para fortalecer o jornalismo no enfrentamento dessa crise”.
“Como coligação de mais de 60 grupos de jornalistas, editores, donos de empresas e grupos de apoio aos media, a EJN promove treinamento e acções práticas para fortalecer a ética e a governança. (…) Como a rede está enraizada nos media, os relatórios produzidos pela EJN, que cobrem vários países, gozam de credibilidade na área jornalística, mesmo aqueles que revelam histórias não contadas sobre a realidade do funcionamento dos media e os desafios da autorregulação.”
“A EJN percebeu neste período de incertezas que, apesar do clima político e económico cada vez mais hostil, jornalistas de todo o mundo - da Turquia, Síria e Egipto ao Paquistão, China e Indonésia - se mantêm comprometidos a relatar a verdade e a respeitar os princípios éticos.” (…)
“Os valores centrais de exactidão, independência e jornalismo responsável - que evoluíram ao longo dos últimos 150 anos - continuam a ser tão relevantes quanto nunca, mesmo nesta época digital. Como diz a EJN, precisamos mesmo de uma nova parceria com o público consumidor dos media e com os formuladores de políticas, para persuadi-los de que o jornalismo ético deve ser fortalecido, e que ele pode ser usado como inspiração para novos programas que promovam a alfabetização informacional.” (…)
A maior parte do trabalho de Aidan White incide sobre o ambiente hostil que a ética jornalística encontra no funcionamento das grandes plataformas distribuidoras, que têm outro tipo de preocupações fundamentais:
“Usando algoritmos sofisticados e bancos de dados ilimitados que dão acesso a milhões de utentes, o modelo de negócios dessas empresas é impulsionado por um objectivo simples: incentivar as ‘informações virais’, que geram clics suficientes para se tornarem veículos eficazes de [publicidade] digital. O que importa não é se a informação é ética, verdadeira ou honesta; o que conta é se ela é sensacionalista, provocativa e estimulante o bastante para atrair atenção.”
“Ainda que sejam muito sofisticados, não é possível programar robots digitais para que tenham valores éticos e morais. Quem melhor pode lidar com questões éticas são seres humanos conscientes - jornalistas e editores bem treinados, informados e responsáveis.” (…)
O texto original de Aidan White, na Ethical Journalism Network, e a sua tradução na pág. 7 da edição em Português do Correio da UNESCO