O jornalismo precisa de imaginação para sair do seu labirinto
Partindo de ambos, Norma Couri - que aqui citamos do Observatório da Imprensa, com o qual mantemos um acordo de parceria - recorda os três pontos de uma receita simples:
Em primeiro lugar, “o que importa é fazer bom jornalismo”:
“O jornalismo tem regras, segue princípios éticos e requer muita cultura e conhecimento, que inexistem no arsenal de faculdades particulares criadas para despejar hordas de profissionais num mercado despedaçado. Um jornal tem credibilidade porque veicula informações em que as pessoas acreditam.”
Em segundo, “que cada um se proteja de plataformas gigantes como o Google, que comprou o YouTube, e o Facebook, que abocanhou o Whatsapp”: “O Big Brother mora ali.”
Por último, combater a erosão da credibilidade lutando pela qualidade do produto: “oferecer às audiências mais do que elas desejam receber, dizer às pessoas o que elas não querem ouvir; num mundo saturado de media, ousar ser um produto de informação, educação e integração – alimentando o espírito crítico e enaltecendo a relação umbilical entre jornalismo e democracia”.
“A saída? Christofoletti diz simplesmente que o jornalista tem de ser, antes de tudo, um forte. São necessárias resistência, resiliência, capacidade de adaptação, tenacidade, criatividade para sobreviver e imaginar caminhos.”
Outro autor invocado por Norma Couri é o jornalista Nirlando Beirão, que escreveu “um dos melhores livros lançados recentemente no Brasil, Meus começos e meu fim”. Dele cita:
“O leitor tem toda a razão em ignorar o trombetear enfatuado de um editorial que pretende endireitar o mundo e repreender a humanidade. Adoro o jornalismo tido como desimportante, o jornalismo pop, das franjas, da periferia, que é de facto o que retrata nossa época. Um jornalismo que não amordace o sentimento de quem o faz”.
Afectado por uma doença degenerativa, Nirlando Beirão continua a escrever com a mão direita, “o único ítem da minha anatomia que não me traiu”, os seus artigos semanais na Carta Capital, além deste livro (é autor de vários outros).
Ele sabe que “o ponto final está me aguardando, com ansiedade justificada”. Mas parar de escrever será “a mais fatal das minhas perdas, pior que a capacidade de amar”. (...)
A concluir, e como mais um motivo de esperança numa “saída” para o jornalismo, a autora congratula-se pelo resultado das recentes eleições na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, e recorda a sua história, desde a fundação em 1908, quando “o mundo girava a 78 rpm”, até à crise e ao descrédito agora anunciado para a profissão:
“Lutar pelo jornalismo em torno da Chapa 2, recém eleita na ABI, voltará a nos dar orgulho. A proposta é buscar uma saída digna e reabilitadora – e quem não acredita, espere para ver. Uma das regras dessa profissão é nunca aceitar não como resposta e reagir contra o arbítrio.” (...)
O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa.