A autora cita o mais recente Digital News Report da Reuters, sobre o uso do smartphone pelos brasileiros, que já chega aos 72% “como um dos principais dispositivos de acesso à Internet (em 2013 era apenas 23%)”. 

“Não à toa, os brasileiros são alguns dos utentes mais entusiastas das redes sociais e aplicativos de mensagem do mundo. Ainda segundo o estudo, embora o uso do Facebook para consumo de notícias tenha caído sensivelmente em relação a 2017 (de 57% para 52%), continua sendo o preferido. Cresceram em popularidade o WhatsApp e o Instagram para este mesmo fim, ambos também pertencentes a Mark Zuckerberg.” 

“O grande problema relacionado com isso já é bem conhecido: o Facebook (bem como as demais redes sociais citadas) não foi feito para notícias. Portanto, o feed dos seus utentes não é construído com base em critérios jornalísticos sobre aquilo que é importante, mas sim a partir de algoritmos que privilegiam aquilo que as pessoas já estão acostumadas a ver e curtir, criando bolhas de informação que confirmam pontos de vista.” 

“Como afirma Jaron Lanier em palestra no TED2018, mais do que redes sociais, essas empresas são moduladoras de comportamento.” (...) 

Andressa Kikuti aborda depois o modo como os jornais brasileiros tratam da tecnologia como notícia especializada, lamentando que não tenham em conta uma necessária “abordagem mais política e social”: 

“A representação da tecnologia nos jornais brasileiros acaba sendo um misto entre uma concepção instrumentalista  – que trata a tecnologia como sendo ferramentas, equipamentos criados para uma diversidade de tarefas -, e utilitarista  – que confere a ela uma visão funcionalista, exaltando sua finalidade e dando menos atenção aos processos envolvidos na sua elaboração.” (...) 

Como conclui, essa representação ignora, por vezes, “um papel importante do jornalismo na sociedade, que vai muito além de simplesmente informar: também envolve contextualizar, resgatar, problematizar assuntos de interesse público, principalmente quando as pessoas precisam de orientação sobre determinado tema (como é o caso, sem dúvida, da influência das empresas de tecnologia nas nossas ações quotidianas, nas informações que recebemos e na segurança dos nossos dados)”.   

 

O artigo citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa do Brasil  e no ObjEthos