O autor considera que escrever de modo intencionalmente rebuscado “é colocar a tal ‘cultura erudita’ num pedestal patético, pretensamente atingível por poucos, os decifradores de textos rebuscados”. (...) 

“Mas porque é preciso ler sobre filmes como esses [tinha citado Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha], de filósofos, obras literárias, efemérides, discos, peças teatrais ou exposições como se estivéssemos lendo sânscrito? Porque propostas culturais mais sofisticadas precisam ser transpostas, nas páginas e blogs jornalísticos, sem clareza, coesão e coerência, mandamentos máximos do jornalismo como um todo?” (...) 

Franthiesco Ballerini recorda que “cadernos e revistas culturais já possuem um número reduzido de leitores, pela sua natureza de falar de segmentos específicos da produção cultural; mas escrever de forma chata, complexa, é trabalhar contra o próprio propósito  – financeiro e cultural –  que estas publicações possuem de atingir um público cada vez maior”. 

Lembra ainda “o velho embate entre jornalistas e especialistas de outras áreas, uma discussão tão antiga quanto a prática do jornalismo no mundo. A quem deve ser a missão de fazer jornalismo: do jornalista ou daquele que entende melhor do assunto em questão?” (...)  

“A resposta é: tanto faz. Desde que tal filósofo, sociólogo, advogado ou poeta consiga construir, em seu texto, uma ponte entre a obra e seu leitor. Mas é para isso que, em tese, os jornalistas passam quatro anos no bacharelado e por isso tendo a defender a profissão. Não como uma ingénua proteção de mercado, mas como uma profissão que domina instrumentos para decifrar o mundo para seus leitores.” (...) 

Franthiesco Ballerini conclui com um exemplo do que considera ser uma daquelas “felizes excepções entre cadernos e revistas culturais”: o ensaio que Claudia Perrone Moises escreveu para a Revista Cult, tempos atrás, sobre a importância do pensamento de Hanna Arendt na contemporaneidade, que descreve como “um texto rico em conteúdo, mas acessível na forma”.

Encontrar um texto assim “é um prazer que não se perde nunca; mas, infelizmente, pontes jornalísticas bem construídas como essas ainda são excepções”.

 

O texto original, na íntegra, no Observatório da Imprensa