O jornalismo, a deontologia, os lóbis e os “extras” pagos…

Segundo a apresentação do tema, em L’Express, “ser-se pago para falar de um assunto que se conhece bem, pode até parecer lógico”:
“É mesmo preferível a ir convidar alguém que não seja especialista. Também o é animar uma conferência quando se é um animador reconhecido, reputado pela sua boa prestação.”
Consultada sobre esta matéria, a jurista de Direito da Imprensa Delphine Meillet entende que os jornalistas não devem ser proibidos de o fazer, desde que respeitem determinadas regras:
“Têm de cumprir os mesmos requisitos exigidos pela escrita de um artigo - ou seja, proteger as fontes, verificar as informações que podem ser dadas e permanecer na informação, e não na comunicação como tal.” (...)
Para Patrick Eveno, director do Observatório da Deontologia da Informação, este tipo de trabalhos não põe problema “desde que não haja conflitos de interesse”.
L’Express descreve depois uma situação que pode desembocar em condicionamento do profissional.
Por exemplo, a de um jornalista da secção de cultura, convidado para uma mesa-redonda sobre a indústria musical e pago por uma editora discográfica. Pode vir a seguir a solicitação de um artigo favorável à marca.
Uma vez instalada a suspeita, escreve Audrey Kucinskas, autor do artigo que citamos, é difícil ao jornalista livrar-se dela.
O sociólogo Jean-Marie Charon vai no mesmo sentido:
Um jornalista especializado na matéria sobre que vai falar tem vantagem, mas “o reverso da medalha é que a empresa vai de alguma forma fidelizá-lo, e isso torna-o dependente”.
Já há pelo menos uma agência que procura explicitamente “animadores-jornalistas”, rubrica onde aparecem nomes bem conhecidos do público.
Bruno Duvillier, da agência Plateforme, sublinha a importância da deontologia, e está consciente de que nem todos contam automaticamente com a aprovação pelo lado do seu principal empregador, o meio para que trabalham.
Em última instância, é o próprio jornalista o primeiro árbitro do que pode fazer:
“Procuramos que não haja conflito de interesse, embora seja o próprio jornalista o mais capaz de saber se há ou não. É ele o primeiro responsável.”
O artigo aqui citado, na íntegra em L’Express