Começando pelo fim: ele não resolve o problema em termos da escolha de uma contra a outra  -  a imagem ou a palavra; mas tem a sabedoria de começar por fazer a “arqueología” das profecias sobre a morte dos jornais, que, como diria Mark Twain, foram talvez exageradas… 

A primeira dessas notícias veio com a chegada da rádio, nos anos 20 do século findo. “Era a palavra escrita contra a palavra falada”  - conta Bastenier, sublinhando a importância que esta teve, por exemplo, nas campanhas de Adolfo Hitler, que soube utilizá-la com uma eficácia que nos espanta.

Mas essas previsões “apocalípticas” não se confirmaram, “antes a rádio se converteu no melhor altifalante da Imprensa, quando anunciava, como um título sonoro, o que só o papel impresso podia plenamente explicar”.

 

A chegada da televisão relançou o debate em termos semelhantes. O autor detém-se na famosa afirmação de que “uma imagem vale mais do que mil palavras” e dá-lhe a volta com a cena do histórico aperto de mãos entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, “oficiado” perante as câmaras pelo Presidente Clinton: só os jornais do dia seguinte, que “fossem capazes de explicar a acção, a natureza das personagens, os custos da operação, as suas expectativas de êxito, teriam esclarecido o que aquilo podía significar; a palavra escrita tinha sobrevivido”. 

Miguel Bastenier reconhece que a ameaça trazida com o digital é mais séria, porque este, ao juntar a imagem, o som, a infografia, a entrevista e o título, “dá ao jornalismo de investigação toda a sua dimensão, torna-se algo como o jornalismo total”. Mesmo assim, imaginando a cena Clinton – Rabin – Arafat, e contando com as entrevistas complementares de especialistas no conflito, a história em mapas, os gráficos, o jornalismo de dados, a avaliação de como se tinha chegado ali, “a palavra, mesmo que com protagonismo reduzido, teria resistido como contextualização e, em especial, como fio condutor da reportagem”. 

A concluir, o mesmo autor afirma:

“(…) O jornalismo começa e termina com a palavra e, sem uma preparação, inclusivamente literária, é inútil movermo-nos como acrobatas pela Internet. Uma coisa é podermos comunicar entre nós, outra muito diferente é contar quem somos e o que nos explica como seres humanos. A palavra escrita e o trabalho presencial do jornalista são hoje tão necessários como há cem ou mais anos. Pode ter mudado o seu uso, mas a palavra permanece.” 


O artigo original, no El País