O autor começa pelo princípio do milénio, que ainda não tem muitos anos, mas que impôs aos jornais a noção de que tinham de integrar no mesmo espaço as edições em papel e Internet.

A imagem de que se serve Félix Bahón para explicar o que sucedeu é a de um acordeão: “O modelo de convergência, que levou muitos títulos a precarizar a qualidade dos seus conteúdos porque era preciso adaptá-los a todas as plataformas, não é compreendido hoje como há dez anos. Também este conceito muda, o que faz com que algumas redacções emblemáticas mostrem as suas salas como acordeões que se encolhem e esticam.” 

O modelo de redacção em que todos os jornalistas fazem de tudo, já não serve. Mas, como explica o autor, “desta mentalidade transversal passámos a uma lógica horizontal: cada plataforma tem de manter a sua identidade própria”.

E Félix Bahón exemplifica com o plano da mais recente reestruturação feita no El País (a que pertence a imagem incluída), “em que se pode ver como os distintos núcleos (digital, impresso, audiovisual), se diferenciam claramente, embora mantenham todos a sua órbita em torno da mesa central, a que coordena a geração de contéudos para uns e outros, de acordo com as plataformas por que são distribuídos”. 

“O desafio profissional desta integração horizontal assenta em conhecer como funcionam as plataformas emergentes, detectar quais as redes mais populares, chegar lá e interagir. Quanto aos conteúdos, saber como transportar uma notícia jornalística para esas redes. Conhecer os elementos próprios de cada uma: como titular a publicação, se leva vídeo, foto, ou que formato é mais adequado para que o utente possa receber todos os dados. E além disso é preciso pensar no horário de publicação e ajustar a ele o registo narrativo.” 

A sequência do texto mantém este tom e revela um “caderno de encargos” muito mais intenso e frenético do que aqueles a que estavam habituados os chefes de redacção dos jornais impressos de há duas décadas. 

E Félix Bahón conclui deste modo:

“Mesmo o nome [o título do órgão de comunicação] acabará por ser residual, se esta tendência do mercado se impuser. Poucos títulos sairão todos os días. Parece que o impresso vai ser relegado para o fim-de-semana, quando se tem mais tempo para uma leitura repousada. E vão aparecer muitos suplementos e edições especiais que possam dar suporte à publicidade, que continua a ser a grande geradora de receitas.”

 

O texto original, na íntegra, em Cuadernos de Periodistas; foto de Matthew Simantov