O discurso de ódio contra o jornalismo ameaça as democracias
Os primeiros parágrafos do relatório citam os casos da Turquia (agora no 157º lugar) e do Egipto (no 161º), que caíram numa espécie de media-fobia, indo ao ponto de acusar de “terrorismo” (e julgar em tribunal) muitos jornalistas.
Noutros países, a fronteira entre a violência verbal e a física é cada vez mais ténue; o Presidente Rodrigo Duterte, das Filipinas (em 133º lugar), previne que o facto de se ser jornalista “não impede que se seja assassinado”. Na Índia, em 138º, “o discurso de ódio contra os jornalistas é amplamente difundido pelas redes sociais, muitas vezes por bandos de trolls a soldo do primeiro-ministro Narendra Modi”.
“Em cada um destes dois países, no espaço de um ano foram friamente executados pelo menos quatro jornalistas.”
Na República Checa (em 34º lugar, mas tendo descido 11 pontos desde o último relatório), o Presidente Milos Zeman apresentou-se numa conferência de Imprensa, em Outubro de 2017, com uma Kalashnikov de imitação que tinha inscrita a expressão “destinada a jornalistas”. E na Eslováquia (em 27º, tendo descido 10 pontos), Robert Fico, primeiro-ministro até Março de 2018, chegou a chamar aos jornalistas “porcas prostitutas anti-eslovacas”, e “simples hienas idiotas”; foi morto neste país, em Fevereiro de 2018, o jornalista Jan Kuciak, que investigava ligações perigosas entre a política e a corrupção.
Christophe Deloire, o secretário-geral dos Repórteres sem Fronteiras, declara no texto que “os dirigentes políticos que alimentam a animosidade contra os jornalistas assumem uma pesada responsabilidade, porque colocar em causa a visão de um debate público fundado sobre a livre investigação dos factos favorece o surgimento de uma sociedade de propaganda. Contestar hoje a legitimidade do jornalismo é brincar com um fogo político extremamente perigoso”.
Na Classificação deste ano, a Noruega e a Coreia do Norte ocupam o primeiro e o último lugar. Aliás, a Noruega e a Suécia mantêm, pelo segundo ano consecutivo, o 1º e o 2º lugar, respectivamente. Mas a Finlândia baixou do terceiro posto (agora acupado pela Holanda) para o quarto, por um caso de ameaça ao respeito pelo segredo das fontes.
Dos cinco países que sofreram as maiores “desclassificações” neste relatório, quatro são europeus: Malta baixou para o 65º lugar (-18), a República Checa para o 34º (-11), a Sérvia para o 76º (-10) e a Eslováquia para o 27º (-10).
Portugal é colocado no 14º lugar, tendo subido quatro posições em relação a 2017. Fica agora imediatamente acima da Alemanha e da Irlanda (era esta que estava no 14º posto em 2017).
Sobre estas e outras mudanças, bem como sobre os critérios de elaboração da Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa, pode ser encontrada mais informação no texto da Asociación de la Prensa de Madrid, que aqui citamos, e no próprio site dos Reporters sans Frontières