O dilema de proteger as fontes jornalísticas na era digital

A chegada da informática foi, no entanto, saudada como uma espécie de movimento de libertação. Gerard Ryle, director do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (conhecido pela sigla ICIJ, e famoso pelo tratamento dos Panama Papers), disse que a era digital seria uma “Idade de Ouro para o Jornalismo”:
“A tecnologia torna possível que a informação seja divulgada a uma vasta escala, que não poderia ter sido imaginada. Para mim, como jornalista, estes tempos são de euforia [boom times, no original], porque podemos colher informação incrivelmente detalhada e notícias que não era possível obter antes.”
O outro lado deste desenvolvimento é que ele teve consequências para “o jornalismo depois de Snowden”.
Daoud Kuttab, fundador da Arabic Media Internet Network, sintetiza os dois aspectos da questão:
“Por um lado, eu acho que acelerou e alargou a quantidade de dados que ficam acessíveis a toda a gente, e tornou muito fácil transferir informação e documentos. Mas, ao mesmo tempo, os governos são também capazes de invadir a nossa privacidade muito mais facilmente, e colher informação.”
Martin Baron, famoso pelo seu papel na equipa Spotlight, do Boston Globe, e hoje director do Washington Post, explica como estas preocupações alteraram o comportamento dos profissionais, durante a cobertura do material de Snowden:
“Eu não esperava que tivéssemos de chegar a comunicar uns com os outros de forma cifrada e, no entanto, foi isso mesmo que sucedeu. Em muitas ocasiões, quando nos reuníamos toda a gente desligava os telemóveis, ou nem sequer os levava consigo.”
Alan Rusbridger, que foi editor principal do The Guardian, põe em causa que o jornalismo de investigação baseado em fontes confidenciais ainda seja possível na era digital - a menos que os jornalistas regressem ao básico:
“Eu sei que o jornalismo de investigação já acontecia antes da invenção do telefone, e acho que estamos a voltar literalmente a essa idade, quando a única coisa segura que havia era o contacto face a face, envelopes cinzentos, encontros em parques, esse tipo de coisas.”
O artigo na íntegra, no site da GIJN, e o relatório da UNESCO aqui referido