Enquanto a indústria entrou numa corrida pela criação de aparelhos capazes de compactarem cada vez mais funções em menos espaço, os neurocientistas foram ver o que isso faz ao nosso mais antigo computador pessoal  - o cérebro. E as notícias não são boas. 

Os nossos smartphones “são mais poderosos e fazem mais coisas do que o computador mais avançado na sede da IBM há 30 anos. E nós estamos a usá-los a toda a hora, como parte desta mania do séc. XXI de atulharmos tudo o que fazemos em cada pequeno momento de pausa.” 

“Os nossos cérebros estão mais ocupados do que nunca. Somos atacados por factos, pseudo-factos, alarido e boatos, todos apresentando-se como informação. O esforço de distinguir entre o que precisamos de saber e o que podemos ignorar é extenuante. Ao mesmo tempo, estamos todos a fazer mais coisas. (...) Earl Miller, um neurocientista do MIT e um dos grandes especialistas mundiais sobre a atenção dispersa, diz que os nossos cérebros ‘não estão construídos para fazer bem multitasking; quando as pessoas julgam que estão a fazer multitasking, na verdade estão a desligar de uma tarefa para outra muito depressa. E de cada vez que o fazem, isso tem um custo cognitivo’.” 

Esta reflexão é desenvolvida num artigo publicado por Daniel Levitin, ele próprio neurocientista, no The Guardian de 18Jan.2015, que tem sido repetidamente citado sobre esta matéria. De um ponto de vista clínico, esforçar-se em multitasking  “aumenta a produção da hormona do stress, o cortisol, e a de ‘fugir-ou-lutar’, a adrenalina, que podem causar sobre-estímulo no cérebro e levá-lo a uma espécie de neblina mental, ou pensamento confuso”. 

Além disso, cria um efeito reflexo de dependência da dopamina, que, de facto, vem “recompensar o cérebro pelo facto de perder o foco e procurar constantemente estímulo externo”. 

“Para tornar piores as coisas, o córtex pré-frontal tem uma apetência pela novidade, o que significa que a sua atenção pode facilmente ser capturada por qualquer coisa nova. (...)  Atender o telefone, ver qualquer coisa na Internet, consultar os e-mails, mandar um sms, cada uma destas coisas toca nos centros da busca de novidade e de recompensa, causando um disparo dos opióides endógenos (não admira que dêem satisfação!), e tudo em detrimento da permanência na tarefa. (...)  Em vez de colhermos grandes recompensas provenientes de um esforço sustentado e focado, colhemos recompensa da execução de milhares de pequenas tarefas cobertas de açúcar.” 

O trabalho de Daniel Levitin segue este caminho até nos avisar das últimas consequências. Saltar constantemente entre uma profusão de tarefas menores (mas viciantes) queima as substâncias que constituem o “combustível” do cérebro e baixa o quociente de inteligência. 

No exemplo mais grave, cita o trabalho de outros neurocientistas, que instalaram no cérebro de ratos de laboratório eléctrodos ligados aos núcleos que disparam a produção de dopamina, os chamados “centros do prazer”, e deixaram na gaiola uma tecla que os activava com um toque de pata. Os ratos submetidos a esta experiência passaram a desprezar a tecla da alimentação e concentraram-se freneticamente na do prazer, até morrerem de exaustão. E coisas semelhantes já aconteceram com internautas viciados em jogos de computador  - cujas histórias são dadas no final do artigo, com links para os relatos originais. 

Num outro estudo, publicado em DigitalTrends em 8Jul.2016, é ainda citado Daniel Levitin e actualizada a informação do seu trabalho, com o conselho de uma maior disciplina do tempo quando se trabalha em meios digitais. Gloria Mark, professora de Informática na Universidade da Califórnia (Irvine), aconselha a “destinar tempos específicos para as várias tarefas e respeitá-los; em vez de saltar do seu trabalho de cada vez que chega um novo e-mail, mantenha a disciplina de só lá ir de acordo com o horário”.

 

O artigo original de Daniel Levitin (a que pertence a imagem, assinada Alamy) e o de digitaltrends