Esta reflexão parte da notícia da extinção de mais um jornal nos Estados Unidos, The Citizen, de uma pequena cidade do New Hampshire, cujo proprietário, atingido pelo aumento dos custos de produção, ainda tendou vendê-lo, mas não encontrou comprador. Foi neste ponto que Charles Arlinghaus, colunista de outro jornal da região, decidiu ir ver mais de perto a causa do óbito:

“Um dos mitos mais persistentes e incómodos sobre a recolha de notícias e de reportagem vem daquele género de tipo que agita o telemóvel diante de nós e diz: ‘Eu não leio jornais. Eu recebo todas as minhas notícias pelo Twitter’. Na verdade, o que ele quer dizer é que alguém que ele segue no Twitter ou noutra rede social põe lá o link de artigos que ele abre.” 

“Mas a reportagem original não foi feita por esse amigo no seu blog, reagindo às notícias, ou pelo que pôs o link, ou pela empresa da rede. Alguém leu o documento, ou produziu a reportagem  - portanto recolheu a notícia -  que depois nós ‘postamos’, ou mandamos pelo Twitter, ou da qual fazemos o link.”

Como sublinha Arlinghaus, sem os repórteres dos jornais “nenhuma das histórias locais teria tido cobertura, ou sido impressa ou retransmitida; ninguém lhe teria feito tweet.” E ninguém teria uma história para ‘postar’ no Facebook. 

E remata com o argumento forte:

“Fala-se muito do declínio dos jornais, como se estivéssemos preocupados com a indústria do papel e da tinta. A verdadeira preocupação é a colheita de notícias, e não só a indústria que publica essas palavras.” 

Roy Greenslade, cujo artigo no Guardian aqui citamos, descreve a situação nas rádios locais dos EUA, que estão também a substituir as suas equipas no terreno por falta de meios, e são os locutores que lêem as notícias feitas por outros, dos jornais impressos que põem em cima da mesa, ao lado do microfone... 

O decínio no número de repórteres é que “nos empobrece a todos”, escreve Arlinghaus:

“Mais pessoas a fazerem a cobertura de mais coisas responsabilizam mais a governação. O fecho do Citizen não trata de um método antigo dando lugar a um novo. É um aviso de que há menos pessoas a vigiar, menos pessoas a contribuírem para nos manter livres.”

 

O artigo no Guardian e o texto original, de Charles Arlinghaus