O custo psicológico para o jornalista na cobertura da tragédia dos refugiados
“No que se refere aos veteranos de guerra, acho que alguns deles foram particularmente atingidos. Quando se está a cobrir este tipo de acção numa zona de guerra, temos a sensação de estarmos a passar pelos mesmos perigos das pessoas à nossa volta”, diz Phil Chetwynd, editor-chefe da Agência France-Presse. “O que se torna muito difícil é quando não há qualquer perigo para nós, mas estamos a ver barcos a afundarem e pessoas a afogar-se.”
Quando Patrick Kingsley se tornou o primeiro correspondente do Guardian a cobrir as migrações, depois de uma passagem pelo Cairo, estava optimista.
“Havia algo que recompensava naquela viagem promissora que as pessoas faziam”, diz ele. Na época, ele esperava que o seu papel, sem igual, fizesse uma diferença. Mas, no final do ano, um Patrick Kingsley exausto já viajara por 20 países e questionava a utilidade do seu trabalho.
“À medida que o tempo passa, uma pessoa vai tratando, sem parar, da mesma situação desgraçada, seja a cobertura de naufrágios ou ver pessoas a serem espancadas na Hungria. Assiste às mesmas reacções idiotas da União Europeia e às mesmas políticas, sem qualquer lógica, que não têm relação alguma com aquilo que se vê e com o que as pessoas estão a contar.” (...)
“O tabu em torno das doenças mentais também torna as decisões mais difíceis. Embora certamente não seja o caso de que todos os jornalistas que fazem a cobertura da crise dos refugiados tenham sido vítimas de uma crise emocional inesperada, o facto é que a questão parece ser maior do que a maioria das pessoas está preparada para reconhecer. E embora o trauma afecte as pessoas de maneiras diferentes, tanto Phil Chetwynd como Jonathan Paterson dizem que a crise foi particularmente nociva para muitos pais.” (...)
O jornalista de vídeo da AFP Will Vassilopoulos, que mora em Atenas, visitou a ilha de Lesbos mais de uma dúzia de vezes. Uma das coisas mais difíceis para ele tem sido o deslocamento entre o trabalho e a família. “É claro que uma pessoa muda, não há dúvida a respeito disso. Você muda enquanto pai”, diz ele. “Os meus colegas são afectados de maneiras diferentes. Quanto a mim, tenho a certeza de que fiquei mais terno com os meus filhos.” (...)
O artigo no Observatório da Imprensa e o original, em The Guardian. A imagem utilizada é da Euronews, e foi tirada na ilha de Lesbos