O autor aborda este tema a partir dos trabalhos de Maxwell McCombs e Donald Shaw sobre as eleições presidenciais de 1968, nos Estados Unidos, afirmando que eles “comprovaram que os assuntos mais expostos pelos media eram muito semelhantes aos temas que os cidadãos consideravam como mais importantes  -  ou seja, as pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo”. 

“Por conseguinte, os media tendem a reproduzir a ideologia do sistema dominante, sendo um ‘contra-poder’ ou ‘poder’ ao serviço dos interesses e perspectivas das elites políticas, a fim de sustentar determinada visão de mundo.”

 

No desenvolvimento do seu artigo, Elstor Hanzen aplica esta leitura a casos recentes na história do Brasil, como a denúncia da corrupção, em que os media “passaram a sensação de que a corrupção era algo eventual até então no país e, agora, sim, tornou-se sistemático e insuportável  – desde que a Operação [Lava Jato] foi desencadeada, em 2014”. 

“Não por coincidência, pouco ou quase nada, porém, têm se informado sobre o contexto histórico e as causas da corrupção. A cobertura se limita ao passado recente e com personagens bem determinados, elegendo como vilão o governo da última década e polarizando o debate em torno do bem e do mal. Ou seja, a imprensa escolheu protagonistas bem específicos para darem conta da narrativa e lhes atribuiu características para se encaixarem nos papéis desejáveis, sem muita abertura para o contexto nem pontos de vista divergentes dos acontecimentos.” 

Elstor Hanzen dá outro exemplo:

“ (...) Segundo pesquisa do Senado brasileiro, dados estimam que mais de 13,5 milhões de mulheres já tenham sofrido algum tipo de agressão. O número equivale a 19% da população feminina com 16 anos ou mais. Outro estudo aponta que uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no Brasil. Porém, para o assunto ganhar as manchetes e a agenda pública  – a reboque da mobilização e repercussão do caso na Internet – precisou acontecer um caso extremo de estupro no Rio de Janeiro, infelizmente.” 

E conclui:

“Com base nesse panorama, os media suscitam, salientam, rejeitam e menosprezam factos para comporem a grade informativa diária, com a qual pretendem obter a nossa atenção e ganhar, em consequência, a repercussão e a agenda pública.” 

 

O artigo na íntegra, no Observatório da Imprensa