“Já escrevi ou falei muitas vezes sobre a incivilidade que as redes sociais desprovidas de moderação têm gerado no nosso país. Algures neste processo chegámos ao ponto de confundir a liberdade de expressão com a liberdade de ser grosseiro, rude, mau, agressivo ou brutal  -  e isto de forma anónima, secreta. Por detrás de qualquer pseudónimo idiota como Darth Vader 2. Ou pior.”  

 

“Eu cresci numa sociedade onde havia palavras que não se diziam  -  diante de senhoras, diante de crianças, ou em público, à mesa de jantar, numa reunião de trabalho, num programa transmitido de qualquer espécie. Mas depois, aos poucos, começámos a vê-las pintadas nas paredes das traseiras de edifícios velhos. E não fizemos nada.” (…)

 

“Onde é que nós perdemos a ideia de que a liberdade de expressão é o direito de sermos protegidos na expressão do nosso pensamento, sejam quais forem as nossas opiniões? Isso não inclui, no entanto, o direito de caluniar, difamar e por fim agredir os outros até à submissão. Não inclui a permissão para insultar (…) os que são diferentes de nós. Fisicamente, socialmente ou politicamente.” (…)

 

“Os sites que utilizam ‘moderadores’ com capacidade para rejeitar esse nível de ‘comentários’ conseguem manter um patamar mais elevado de comunicação e entendimento. Mas para grupos menores e com menos recursos, a capacidade de fazer funcionar esse tipo de ‘filtro’ mais depressa põe em causa a própria existência do site do que resolve o problema.” (…)

 

“Mas agora atingimos um patamar mais baixo. Um discurso de esgoto, tão mau que já nem queremos que as crianças vejam o noticiário. E agora são os nossos dirigentes nacionais que conduzem este rebanho.” (…)

 

“Escrevo este texto da Europa, onde a atitude das pessoas, sobre aquilo que elas vêem de nós, na televisão, é clara, mas expressa de um modo muito mais elegante, mais honesto e mais cuidadoso do que aquele que nós temos uns com os outros. Eles têm pena de nós. Eles perguntam o que aconteceu a esses cidadãos decentes, bons cristãos, intelectuais genuínos, activistas empenhados, patriotas genuínos, que se sentem envergonhados pelos seus próprios partidos políticos. E nós, pelo nosso lado, perguntamos o que é que nos aconteceu.” (…)

 

“Disse o Dalai Lama: “Se queres que os outros sejam felizes, pratica a compaixão. Se queres ser tu feliz, pratica a compaixão.”

Como eu vejo as coisas, parece-me que para ser compassivo, neste ambiente, já não basta dizermos ‘é horrível’. Precisamos de dizer: ‘Isto acabou. À minha frente. Para sempre’.”

O texto original de Joan Chittister