Novos meios digitais apostam em modelos cobiçados

A intenção de Nicolas Hulot era chegar aos digital natives, “os nascidos a partir de 1995, no momento da democratização da Internet”. Os media que assumem este foco procuram um discurso mais envolvido, ou empenhado (engagé), eventualmente mais subjectivo, para tocar uma audiência mais militante.
Segundo um estudo recente, da corporação de pesquisa RAND, aqui citado do NiemanLab, desde há uma década “o jornalismo digital distingue-se do impresso por este engagement mais acentuado.”
O relatório revela que títulos como Huffington Post, Politico ou BuzzFeed, tornaram-se “mais pessoais e centrados sobre a defesa de posições específicas”:
“Caracterizam-se pela utilização de uma linguagem directiva, no limite do apelo. Daqui resulta um jornalismo que permanece fortemente ancorado nos grandes temas políticos e sociais, mas que dá conta deles por meio de quadros e experiências pessoais, (...) por meio de testemunhos na primeira pessoa.”
Na França, um exemplo é o site de cultura pop Konbini, que usou, na campanha presidencial de 2017, “testemunhos sem filtro dos candidatos falando diante da câmara, num tom mais ligeiro e sem entrevistador”.
O sucesso foi tal que deu origem a Konbini News, “um autêntico órgão de comunicação e reportagem, ‘empenhado’ e incarnado pelo jornalista Hugo Clément”, com reportagens sobre os animais maltratados, a homofobia ou as consequências do aquecimento climático. É hoje consultado por sete milhões de millennials (jovens entre os 18 e os 35 anos), ou seja, “mais de 50% da cobertura deste público-alvo”.
O artigo que citamos mostra outros exemplos deste novo jornalismo, como o de Vice, “um magazine de contra-cultura”, canadiano, hoje uma cadeia de televisão internacional, com o acento sobre a diversidade. Outros sites, mais próximos da cultura pop e do infotainment, seguem na mesma direcção.
O exemplo acrescentado é o de Melty, apresentado como órgão da youth culture, e que mudou recentemente com a chegada de Elise Goldfarb e Julia Layani, em Março. “É claro que vamos continuar a ter divertimento e infotainment no Melty. Mas queremos acrescentar engagement e convicções. Queremos que Melty assuma os valores da nossa geração” - disse Elise Goldfarb. (...)
Segundo o sociólogo dos media Jean-Marie Charon, também há nisto alguma estratégia comercial, porque estes novos meios “têm uma obrigação de desempenho, para conseguirem demarcar-se na selva dos conteúdos nas redes sociais, o seu principal terreno de expressão”. (...)
Mas há os que vão ao ponto de assumir missões humanitárias, como fez Konbini depois de uma reportagem de choque sobre os habitantes da região do Kasai, na República Democrática do Congo, em Julho de 2018. O site apelou a uma colecta de fundos e conseguiu juntar 600 mil euros.
“Nós estamos exactamente naquilo que queremos representar. Um meio em ligação directa com o seu público, e que vai além do like and share” - explica o seu director, Mathieu Marmouget. (...)
O artigo aqui citado, na íntegra em Le Figaro.