Novo “ecossistema jornalístico” como proposta no Brasil

O autor admite que “as organizações jornalísticas tradicionais têm um histórico de produção de notícias assentadas em factos reais. Herança, inclusive, da época em que monopolizavam a mediação entre os factos e suas audiências, ante a impossibilidade tecnológica de outros sujeitos virem a fazer o mesmo”.
"Não há dúvida, portanto, de que tais empresas produzem um conteúdo que, em regra, não se igualam às fake news, e que portanto elas têm uma perícia de verificação que agrega valor de verdade ao seu conteúdo. E que essa perícia é certamente bem-vinda no combate aos conteúdos fakes. E, claro, ao noticiário nosso de cada dia.” (...)
Josenildo Guerra acrescenta, mais adiante, que “há uma distância entre a competência para identificar e denunciar conteúdo fake das redes sociais, facilmente identificáveis, para olhos minimamente treinados, e a competência para produzir um conteúdo jornalístico de alta qualidade”.
Em consequência disto, afirma a necessidade de um projecto Comprova Reverso, que leve as mesmas organizações jornalísticas a “olhar para si mesmas, para seu conteúdo, sua cobertura, e perguntarem-se sobre as limitações, falhas, imprecisões e padrões editoriais existentes que põem em risco a credibilidade tão reivindicada por elas”.
“Essa tarefa, entretanto, é muito mais complexa do que a do projecto original. O Comprova Reverso é uma metáfora para a necessidade de um esforço articulado entre diferentes actores preocupados e empenhados em construir um ambiente jornalístico forte, sustentável e socialmente relevante. Trata-se de um esforço estratégico, de efeito a médio e longo prazo, mas cujo início não pode tardar no Brasil.” (...)
O autor desenvolve então, a proposta de “quatro movimentos complementares e articulados”, como “um possível roteiro para o fortalecimento da actividade jornalística no Brasil” - os quais constituem apelos à implantação de boas práticas de gestão editorial e accountability, vários mecanismos de autorregulação, “instituição de programas de avaliação de qualidade editorial” e desenvolvimento da inovação editorial.
E conclui afirmando que estes movimentos “visam a constituição de um ecossistema jornalístico aberto à discussão e à interacção entre seus diferentes actores. As organizações não dependem de si mesmas para ter e manter credibilidade. (...)
Uma nova postura editorial precisa reconhecer que o jornalismo de qualidade não resulta de definição e determinação exclusivas das organizações. E a credibilidade vai resultar de padrões de qualidade demonstráveis, não apenas retóricos. O novo desafio não é comprovar a qualidade dos outros, mas comprovar a sua própria qualidade.” (...)
O texto citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa. Mais informação no nosso site.