Nova revista digital que… implica sair da Internet

Para chegarmos aqui é mesmo preciso suspendermos a ligação Wi-Fi. Não há mágica em nada disto, e a pequena “batota “ é explicada no artigo que citamos. “Todo o conteúdo da revista é descarregado quando o utente faz a primeira entrada no site, mas fica impedido de ser visto enquanto o browser não disser que está desligado. A revista inteira não tem mais do que uns 250 Kb (o ‘tamanho’ de uma pequena fotografia), porque tem poucas imagens e nenhum anúncio.”
No fundo, o criador da Disconnect, um programador chamado Chris Bolin, tira partido das próprias funções e possibilidades do sistema para criar uma experiência de “saída” voluntária. E não se trata de um “negacionista” da Internet:
“O tema desta edição é muito directo: os seres humanos e a nossa tecnologia. Todos os artigos descrevem um encontro com a tecnologia, seja ele intencional ou inconsequente, construtivo ou devastador. Vão lá encontrar um poema sobre uma conflituosa fome de silêncio, uma história sobre a ‘monetização’ dos mortos e uma exposição sobre o futuro das novas divisões [fronteiras] digitais.”
O ensaio Escape: The next Digital Divide começa precisamente por esta frase: “Nós podemos ser capazes de aceder e fazer sentido [do uso] da Internet. Mas sair dela está a tornar-se um privilégio.” Outra frase do mesmo texto: “Nós lutamos por sair da Internet porque nos tornámos como ratos de laboratório, condicionados a ficar à espera da recompensa.”
Chris Bolin diz que foi levado a criar The Disconnect, em parte porque deu conta da sua própria tendência para uma espécie de dependência da Internet, em que a pessoa acaba “a saltar de link para link sem qualquer propósito, até ver que passou horas nisto”.
A Internet é uma grande ferramenta para procurar informação - diz ainda. “Mas não foi realmente pensada para as pessoas - ou antes, foi pensada para pessoas perfeitas. Se nós fôssemos máquinas, podíamos decidir quais daqueles links são realmente importantes para o nosso trabalho, e seguir só esses.”
“Mas, para seres humanos, o desconhecido é sempre mais interessante, e então abrimos um link noutro sítio, e depois mais... É como a emoção da caça.” (...)
Ironia final: Chris Bolin não instalou, deliberadamente, qualquer ferramenta de medida de tráfego, como a Google Analytics, porque o tema da revista é precisamente o desconectar-se. Mas recentemente passou os olhos pelos dados do servidor que usa para hospedar a revista e descobriu que tinham aparecido mais de 50 mil visitantes únicos só nas primeiras duas semanas...
O artigo citado, na Columbia Journalism Review