Nas suas funções actuais, declara-se “um jornalista que está a aprender a ser gestor”, com a responsabilidade de o fazer numa “comissão cívica, de serviço público”: 

“Tanto quanto possível, e com as limitações inerentes ao facto de sermos equiparados, em matéria salarial, à Função Pública, estou a tentar aumentar o rendimento das pessoas por várias formas não directas. No essencial, tornar mais agradável a vida neste edifício em que se trabalha 365 dias por ano, 24 horas por dia.” (...) 

“Na minha experiência nos últimos mais de 20 anos, estive sempre no sector privado. A grande diferença é a capacidade de decisão. As decisões no sector privado são mais ágeis, mais rápidas, mais eficazes, dependem menos de entidades fora da empresa. Ao contrário do que acontece aqui [Lusa], em que temos duas tutelas, o Ministério da Cultura e o Ministério das Finanças, e onde, sobretudo em matéria orçamental, temos de dar satisfações.” (...) 

Fala com satisfação do papel especial que a agência tem em África, nos países que falam português. Refere um acordo recente com o Fórum da Diáspora Portuguesa, bem como as comunidades portuguesas: 

“Temos pessoas de nacionalidade portuguesa em posições importantes em muitos pontos do mundo e queremos estar junto dessas pessoas, ter informação sobre elas e divulgá-la, bem como fazer chegar a informação que produzimos. (...) 

Disponibilizamos o nosso serviço gratuitamente para as comunidades portuguesas, de forma a que possam ter acesso à informação produzida cá. O que temos de melhorar é ter mais informação deles para divulgar.” (...) 

A respeito de entraves financeiros, Nicolau Santos menciona o “tempo excessivo para se autorizar substituições de pessoas que são requisitadas. Há trâmites que têm de ser cumpridos e analisados pelas duas tutelas e isso demora tempo. Ainda por cima são autorizações que caducam a cada 31 de Dezembro”. (...) 

Recorda um período, na sua história de vida na profissão, em que “o jornalismo era uma profissão marginal, claramente olhada de lado; era uma profissão em que era preciso ter dois empregos, tinha vários colegas que trabalhavam em dois jornais, um de manhã e um à tarde”: 

“Depois, nos anos 90, com a abertura das televisões à iniciativa privada, com o aparecimento de projectos privados como a TSF ou o Independente, e com a melhoria da situação económica do País, houve uma explosão, quer de escolas de comunicação social, quer de projectos editoriais, portanto os salários aumentaram e os jornalistas passaram a ter um outro peso na sociedade, ganharam um estatuto de protagonismo. Agora, que estou em fim de carreira, estamos a assistir outra vez ao declínio das condições de trabalho na profissão.” (...) 

Sobre as pressões a que um jornalista pode ser sujeito, afirma: 

“Acho que quem vem para esta profissão não pode ter medo de duas coisas: de fazer perguntas  - a curiosidade é a alavanca de um jornalista, um jornalista que não faz perguntas não existe. (...) E a outra é de pressões. Um jornalista tem de estar consciente de que a profissão traz pressões, de todos os sítios.” 

“Acho muito irónico que os jornalistas, ao longo dos últimos anos, de repente tenham descoberto o fenómeno do político que telefona aos gritos, ou sem ser aos gritos, a dizer qualquer coisa, e que acham que isso é uma grande pressão. Não, não é. Pressão são os jornalistas que cobrem áreas de guerra e que morrem aos 200 por ano, isso sim, é risco de morte, e isso é que é verdadeiramente arriscar a vida para dar notícias.” 

“Acrescento ainda que as pressões não vêm só dos políticos, nem de perto nem de longe. Trabalhei muitos anos na área económica e sei o que são as pressões que vêm desse lado, mas também há pressões na área cultural, na área desportiva. Todos os jornalistas sofrem pressões e têm de estar preparados para isso.” (...) 

Outro tema abordado foi o da proliferação de “comentadores”: 

“Acho que o espaço público onde os jornalistas deviam actuar foi completamente contaminado sobretudo por políticos. Não compreendo porque é que nós, jornalistas, entregamos o comentário, a análise das situações, a pessoas que na maior parte dos casos estão elas próprias envolvidas nas situações.” 

“Se pedimos a políticos para comentar situações políticas, obviamente eles têm algum interesse no que se está a passar e, sem tirar mérito às pessoas que aparecem a comentar, isso não me parece ser missão nem função dos políticos. Devem ser convidados para debates, não para comentar assuntos, isso somos nós a demitirmo-nos daquilo que é a nossa profissão.” 

“É evidente que eu percebo que convidar dois ou quatro políticos e metê-los num estúdio é uma emissão baratíssima, não custa nada, não se paga nada e ocupa-se a antena uma hora. Só que isso, na minha opinião, não é das situações mais esclarecedoras e não honra a profissão.” (...)

 

A entrevista citada, na íntegra, em Notícias ao Minuto