Newseum em Washington é obra faraónica para um “ofício ultrapassado”

O autor, que foi director-adjunto da Folha de S. Paulo, Ombudsman e correspondente em Washington, refere as dificuldades dos grandes títulos, como The New York Times e The Washington Post, ou The Guardian e o Times, no Reino Unido.
“O britânico The Guardian acaba de estruturar-se nos Estados Unidos como entidade sem fins lucrativos para buscar fundos em organizações filantrópicas e fundações e financiar reportagens sobre temas como mudança climática e direitos humanos. Quem seguiu a mesma linha foi a revista The Atlantic, comprada pelo Emerson Collective, organização não governamental presidida por Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs, da Apple.” (...)
Durante 62 anos, o Village Voice foi um símbolo da cultura alternativa de Nova Iorque. Agora tenta sobreviver apenas digitalmente. O seu principal concorrente no passado, o New York Press, fechou em 2011, e não sobreviveu em nenhum formato. Como o Voice agora, já antes deixaram de circular o Boston Phoenix, o San Francisco Bay Guardian e o City Paper da Filadélfia e de Baltimore.
Carlos Lins da Silva cita alguns “números fortes”:
Neste momento, 67% dos americanos dizem que se informam, pelo menos em parte, nas redes sociais, e 55% com mais de 50 anos já fazem parte desse grupo...
E 74% dizem obter pelo menos parte das notícias pelo Twitter, e 68% por meio do Facebook. Um dado favorável ao Brasil é que 60% dos brasileiros dizem confiar nas notícias veiculadas pela Imprensa, número inferior apenas ao da Finlândia (62%).
Descreve depois a situação de hostilidade declarada à Imprensa em diversos países, com destaque para casos que estão a tornar-se comuns nos Estados Unidos depois da eleição de Donald Trump.
Sobre o ocorrido em Charlottesville, põe-se “a questão de garantir tratamento igual aos dois lados de um debate”:
“A questão é se o princípio vale até quando parece claro que um deles representa o mal, como os movimentos neonazis americanos que aterrorizaram a cidade universitária de Charlottesville, Virginia, naqueles dias, e mataram uma activista liberal que se manifestava pacificamente pela retirada de estátuas locais de líderes confederados da Guerra Civil americana. O presidente Trump reagiu aos incidentes dizendo que os dois grupos tinham ‘pessoas muito boas’ e pessoas violentas, equiparando-os moralmente.” (...)
“O tema certamente não é simples. Quem traça a linha que separa o aceitável do intolerável? E quando? O candidato Adolf Hitler na Alemanha em 1932 deveria ter tido suas liberdades negadas nas eleições parlamentares? E o candidato Donald Trump em 2016? E Jair Bolsonaro em 2018?”
“E a Imprensa: quando pode ou deve escolher um lado e negar a alguém ou a um partido o direito de expor suas ideias ao público?”
“No caso específico de Charlottesville, as pesquisas indicam que 56% dos americanos desaprovaram a reacção de Trump aos eventos ao igualar os dois lados em confronto. Para 42%, não se pode nunca equivaler neonazis a seus oponentes (mas 35% dizem que às vezes é possível que sim).”
“Estatisticamente, portanto, há nos Estados Unidos maiorias contrárias à equiparação entre os dois lados, mas está longe de haver unanimidade.” (...)
O texto de Carlos Lins da Silva, na íntegra, no Observatório da Imprensa