Na guerrilha da informação as nossas defesas são “trincheira inútil”
A autora cita uma variedade de situações em que jornalistas cuja investigação incomoda determinados poderes - sejam eles políticos, económicos ou de natureza extremista, se tornam alvos de assédio online, muitas vezes com a exposição das identidades de familiares, amigos ou colegas de redacção.
“Fora dos EUA, exércitos de trolls de governos autoritários atiram-se à Imprensa de oposição, como a fundadora do site Rappler, Maria Ressa, descobriu nas Filipinas quando o Presidente Rodrigo Duterte activou contra ela uma horda no Facebook.
“O que acontece online está a passar, cada vez mais, para o mundo real. Como vimos recentemente com uma quantidade de ataques a tiro, a reciprocidade de relações entre as mensagens online e as acções offline estabelece um novo patamar de perigo e dificuldade para os repórteres.”
“As redacções [com preocupações] éticas treinam os seus repórteres sobre como estarem seguros, eles e as suas fontes, em ambientes fisicamente hostis. O novo desafio para as redacções é alargar essas práticas ao ciberespaco, à medida que todos se arriscam às consequências que decorrem do seu trabalho, online e offline.”
“A raiz do problema é bem conhecida, mas as soluções não estão desenvolvidas. Empresas como a Google e o Facebook têm acumulado milhares de milhões de dólares com plataformas que tornam fácil publicar, mas difícil detectar a desinformação.” (...)
Emily Bell descreve a quantidade de lixo digital que tem ocupado espaço nos últimos dois anos e previne que “vem aí mais”:
“A inteligência artificial permite muito mais actividades automáticas que vão reformular as comunicações de um modo ainda mais profundo do que o das redes sociais. Podemos preocupar-nos com as possibilidades dos vídeos deep fake, as representações hiper-realistas de pessoas e lugares geradas instantaneamente para enganarem os nossos sentidos.” (...)
“Os códigos editoriais e a formação do jornalismo estão a ficar para trás da realidade. O livro The Digital Maginot Line, da especialista em desinformação Renee DiResta, descreve o problema quando as medidas de segurança da informação estão a combater como ‘na guerra anterior’:”
“Nos Estados Unidos, por exemplo, continuamos focados nas eleições de 2016 e nos seus robots russos. Em consequência, continuamos a investir numa lista de respostas inapropriadas e ineficazes: uma Linha Maginot digital construída numa parte do campo de batalha como dissuasora de uma espécie de tácticas, enquanto as novas tácticas já se estão a manifestar, em tempo real, noutro sítio...”
A conclusão de Emily Bell é que “instaurar práticas éticas e de segurança que tornem o jornalismo mais do que uma trincheira inútil, nas próximas guerras da informação, será o desafio de uma geração.”
O artigo aqui citado, na íntegra na Columbia Journalism Review