Mudança de algoritmo no “Facebook” afecta imprensa “millennial”
"Durante muito tempo foi dito que os jovens não estavam interessados na informação, e eles estão, mas acedem de uma maneira diferente", explica Barbara Yuste, uma especialista em comunicação.
Foi possível apurar, também, que existem jovens que consomem notícias “acidentalmente”. Esse conceito tem origem numa pesquisa qualitativa desenvolvida, em 2016, pelo Centro de Estudos sobre Meios e Sociedade na Argentina (MESO).
Os pesquisadores perguntaram a 24 jovens, entre 18 e 29 anos, sobre os seus hábitos de consumo de notícias e concluíram que consumiam notícias sem as procurar.
Consumir acidentalmente uma notícia, ou de forma indirecta, significa que a notícia chegou ao utilizador sem que este a tivesse pesquisado.
Portanto, o consumo baseia-se em notícias que são lidas a partir do feed do Facebook, de alertas dos media ou a partir de qualquer notificação, o que gera pouca atenção por parte do leitor. Para os autores do estudo, isso significa "perda do contexto e da hierarquia do conteúdo jornalístico na experiência do público".
Os millennials preferem, também, partilhar conteúdo em vez de publicá-lo. O mesmo relatório da DigitalNewsReport.es concluiu que há muito mais pessoas a partilhar notícias no Facebook ou no WhatsApp do que a publicá-las.
Com o aparecimento das redes sociais e a sua evolução, em 2006, passou a ser possível partilhar notícias no Facebook e começaram a surgir os conteúdos “virais”.
Para perceber melhor que características tornavam determinados “posts” mais “partilháveis” do que outros, Jonah Peretti, um dos fundadores do Huffington Post e do BuzzFeed, decidiu programar um algoritmo, cujo objectivo era identificar os sites onde as notícias eram partilhadas e analisar os tópicos e os comentários.
A conclusão foi que os conteúdos mais partilhados eram imagens amigáveis, citações de celebridades, acontecimentos chocantes que não fossem trágicos e animais a fazerem coisas peculiares. Depois de concluída a análise, Peratti lançou a redacção do BuzzFeed, que se tornou uma referência na internet e nas redes sociais.
Assim surgiram os meios de comunicação social que são considerados millennials, entre os quais estão também a Vice, Playground, Gonzoo – 20minutos.es, Código Nuevo, Verne (do El país), FCinco (do El Mundo), Eslang (do Vocento) e a versão espanhola do BuzzFeed, que chegou a Espanha somente em 2015.
Todos esses media apostaram no desenvolvimento de conteúdos próprios para serem partilhados nas redes sociais.
Alguns deles, como a Vice Espanha e o Playground, escreviam sobre assuntos que visavam os jovens e que não apareciam nos meios mais tradicionais.
Os anunciantes tinham especial interesse nestes meios, uma vez que apresentavam um grande número de partilhas.
Em 2016, o Facebook quis penalizar os questionários e os memes. Para isso, alterou o seu algoritmo e instituiu os “conteúdos patrocinados”, passando a ser necessário que os media pagassem para que os seus anúncios chegassem ao seu público alvo. A plataforma passou, também, a privilegiar mais o vídeo e conteúdos multimédia, atribuindo menor relevância a fotografias e texto.
Esta alteração no Facebook provocou uma “crise” no sector e levou ao encerramento de muitos desses media. A Eslang e a BuzzFeed Espanha fecharam as portas este ano e a VICE Espanha fechou, também, o departamento, que foi assumido pela Vice México.
O pesquisador Samuel Negredo evita falar de uma crise geral:
"Falaria de casos concretos, não da crise da imprensa millennial. Como é que os meios de comunicação dirigidos ao público que consome mais informação na Internet vão entrar em crise? Outra coisa é saber se faz sentido abordar este público apenas com conteúdos de entretenimento e concebidos para redes sociais.”
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